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Jornalista Arlindo Chissale desaparecido: Rapto encomendado?

DW (Deutsche Welle)
14 de janeiro de 2025

Três apoiantes de Venâncio Mondlane desapareceram do convívio familiar e político na província moçambicana de Cabo Delgado desde o início de ano. Entre os desaparecidos está o político e jornalista Arlindo Chissale.

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Pemba | Cabo Delgado
Delegado político do partido PODEMOS associa desaparecimento misterioso de Arlindo Chissale a motivações políticasFoto: DW

Na semana passada, Arlindo Chissale, uma das figuras sonantes do partido PODEMOS e apoiante ferrenho do candidato presidencial Venâncio Mondlane, desapareceu sem deixar rasto quando seguia viagem da cidade de Pemba, em Cabo Delgado, a Nacala-Porto, em Nampula.

Ouvida pela DW, a família conta que o último contacto com Chissale foi efetuado por telefone por volta das 17 horas do dia 7 de janeiro, quando passava por Sunate (Silva Macua), em Cabo Delgado. 

"Às 17 horas desse dia ele deu sinal à esposa de que já estava num transporte público e passava por Silva Macua. Ele ia apresentar-se no serviço em Nacala-Porto. Desde então nunca houve mais comunicação porque o telefone chamava e ninguém respondia", conta Macário Chissale, irmão do político desaparecido.

Tentativas de contactos efetuados nunca mais surtiram efeito, uma vez que, segundo a família, os telemóveis de Arlindo Chissale estão completamente fora do ar. O irmão fala de um rapto encomendado.

 "Nós suspeitamos disso tendo em conta que, ultimamente, ele abraçava a causa de Venâncio Mondlane. Estamos abatidos, mas ainda com a esperança de, pelo menos, entregarem-nos o corpo, se o mano perdeu a vida".

"Motivações políticas"

O delegado político do partido PODEMOS em Cabo Delgado, Singano Assane, associa o desaparecimento misterioso de Chissale a motivações políticas.

Singano Assane
Singano Assane afirma que, tal como Arlindo Chissale, outros dois membros do PODEMOS também desapareceram sem deixar rastoFoto: DW/D. Anacleto

"O Chissale estava a viajar para Nacala-Porto. Perdemos comunicação com ele quando andava em Silva Macua [no distrito de Ancuabe]. Até hoje não se sabe onde está. A perseguição é maior", lamenta Assane.

O delegado do PODEMOS em Cabo Delgado afirma que, tal como Arlindo Chissale, outros dois membros da formação política também desapareceram em situações similares, sem deixar rasto.

"Além dele está a desaparecer muita gente. Temos um mobilizador de Machoca em Namuno e o outro é Eduardo Pascoal, que vive em Pemba e foi apanhado quando ia a Montepuez", explica.

Polícia desconhece desaparecimentos

Durante uma conferência de imprensa, a polícia em Cabo Delgado disse desconhecer os desaparecimentos.

Aniceto Magome, porta-voz da corporação, afirma que as autoridades não receberam qualquer queixa sobre o alegado sumiço de membros do PODEMOS ou de qualquer outra formação política.

"Não tivemos nenhuma denúncia ou informação formal sobre o desaparecimento de membro de qualquer partido político. Se há uma situação de desaparecimento, aconselhamos a família a aproximar-se das autoridades policiais ou outros órgãos da justiça para poder denunciar e, a partir daí, vão se desencadear as investigações necessárias", recomenda Magome.

A 3 de janeiro, um chefe de mobilização do PODEMOS no distrito de Montepuez foi morto a tiro por pessoas até agora desconhecidas. O PODEMOS denunciou também o assassinato de um outro seu correligionário na aldeia Ntutupue, no distrito de Ancuabe.

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