Islamismo radical cresce no Senegal
22 de fevereiro de 2012
Tradicionalmente visto como um país relativamente seguro e politicamente estável, o Senegal tem vivido, ultimamente, momentos de tensão.
Na base do clima de instabilidade está a onda de contestação que se gerou, no país, em torno da recandidatura do atual Chefe de Estado, Abdoulaye Wade, às próximas eleições presidenciais de 26 de fevereiro.
Mas ao ambiente político, acrescenta-se um outro fator, nomeadamente, a possibilidade de estar a aumentar o radicalismo islâmico no Senegal.
O Estado senegalês expulsou, em 2010, um número indeterminado de cidadãos da Mauritânia, acusados de pertencerem ao movimento terrorista Al-Qaeda no Magrebe islâmico (AQMI). Em 2011, o enviado especial da Organização das Nações Umidas (ONU) para a África Ocidental, o mauritano Ahmed Ould Abdalah, alertou a comunidade internacional para o facto de que no Senegal haveria "células de terroristas islamistas infiltrados".
A situação parece ter-se agravado, este ano, em toda a região da África Ocidental, inclusive no Senegal, sobretudo depois do derrube do regime de Muammar Kadhafi, na Líbia. Muitos dos mercenários, armados com sofisticadas armas de fogo, que lutaram do lado das tropas de Kadhafi, encontram-se agora em países da África Ocidental, onde se juntaram a grupos radicais.
Mensagens de líderes radicais são atrativas para os jovens
O jornalista senegalês Mame Less Camara é de opinião que há uma crescente influência do grupo terrorista Al-Qaeda no Magrebe islâmico no seu país. De acordo com o repórter, essa influência está relacionada com vários motivos, nomeadamente o facto de que "no Senegal o papel da religião é mais forte que o da política. Vale a pena, por exemplo, observar o presidente a fazer salamaleques ao califa islâmico. O Senegal não é um país teocrático, é certo, mas não deixa de ser um país em que - cada vez mais - são os líderes religiosos que impõem as regras morais no dia a dia", explica Less Câmara.
O Senegal, saliente-se, tem vindo a reforçar a sua cooperação económica e cultural com o mundo árabe, sobretudo com a Arábia Saudita, o bastião do islão sunita radical. Os "sheikes" muçulmanos senegaleses são formados, na sua grande maioria, em escolas ultra-conservadoras e que apregoam uma versão retrógrada do islão, na Nigéria, no Egito ou nos Emirados do Golfo Pérsico.
O jornalista Mame Less Camara afirma mesmo que existem contactos entre grupos senegaleses e o grupo radical islâmico Boko Haram, do norte da Nigéria. Segundo o jornalista, os jovens desempregados no Senegal sentem-se, por vezes, aliciados pelos grupos radicais: "Existem cada vez mais jovens que ouvem as mensagens dos pregadores radicais e aderem a elas. E passam a querer viver o islão de uma forma totalitária", sublinha Mame Less Câmara.
O perigo é real mas está distante
Já o sociólogo francês Jean-Charles Brisard, especialista em questões de terrorismo internacional, atira para longe o risco de o Senegal cair nas mãos de organizações como a Al-Qaeda no Magrebe islâmico. Sem negar a existência de perigos, Jean-Charles Brisard esclarece que "é provável que a Al-Qaeda venha a atuar em regiões fora da sua zona de influência. Mas a estratégia atual aponta mais para que a organização fortaleça a sua posição em zonas nas quais já está bem implantada, ou seja no Sahel" (região situada a sul do deserto do Saara).
Autores: Dirke Köpp / António Cascais
Edição: Glória Sousa / António Rocha