Investimento estrangeiro ajuda suprir lacunas em Moçambique
13 de agosto de 2012A mineira Anglo American vai comprar por 460 milhões de euros 58,9% do projeto de Revuboé, localizado na província central moçambicana de Tete, o que corresponde a 1,4 mil milhões de toneladas de carvão térmico, segundo um comunicado da empresa divulgado em julho.
A empresa comprou assim todos os ativos do grupo Talbot, que era o acionista maioritário do projeto Revuboé. Os restantes acionistas são a empresa japonesa Nippon Steel Corporation, com 33,3% e a siderúrgica sul-coreana POSCO, com 7,8%.
De acordo com o comunicado da Anglo American, o negócio da compra do depósito de Revuboé vai iniciar-se em setembro e deverá estar concluído ao longo do mês.
O projeto da mina de Revuboé é considero uma oportunidade estratégica para produzir carvão de coque e carvão térmico para exportação.
Localizada na zona da bacia de carvão de Moatize, Revuboé corresponde a uma área de aproximadamente 3.860 hectares, localizada a cerca de 12 quilómetros a nordeste da cidade de Tete, capital da província central moçambicana com o mesmo nome. A área de Revuboé é limitada pelo projeto do carvão de Moatize, explorado pela empresa brasileira Vale.
A propósito deste assunto, a DW África conversou com o economista moçambicano Luís Magaço que analisou as vantagens e riscos dos grandes investimentos no país.
DW África: Quais são as vantagens para Moçambique de mais investimento externo?
Luís Magaço (LM): Quem ganha, de facto, é o país, são as pessoas, o governo, e também ganham os projetos. Isso também implica que, ao nível do investimento em infraestruturas de transporte, há mais um investidor com uma estrutura gigantesca que pode contribuir para suprir esta grande necessidade logística.
DW África: Apesar do investimento já ter sido iniciado só vai ser realmente concretizado em setembro. Neste momento, fala-se na possibilidade de talvez não haver capacidade de exportação ou mesmo de armazenamento de carvão da Anglo-American, pois há especialistas que dizem que a região de Revuboé não tem condições.
LM: Sim, eu conheço bem a região. Mas essas condições têm de ser criadas. É preciso levar em conta que o governo não tem capacidade para a criação das infraestruturas que os grandes projetos de carvão e de gás requerem, de forma que a logística sirva os projetos. Então não há condições de armazenamento agora, mas serão os próprios, neste caso será a própria Anglo-American, como parte deste projeto, que irá desembolsar os fundos para que estas condições sejam criadas. Portanto, com tudo isso, penso que quem ganha é o país.
O que é fundamental fazer agora, do ponto de vista do governo, é alinhar essas infraestruturas num plano geral, para que não haja deformações na maneira como depois essas se implantam.
DW África: A propósito de deformações, acredita que possa haver algum aspecto negativo com mais investimento estrangeiro em Moçambique?
LM: A mim preocupa-me toda a questão ambiental. As minas que estão a ser construídas são minas a céu aberto, não são recomendadas em muitas partes do mundo porque elas são poluidoras do ambiente.
Depois, temos também toda esta questão de deformações do mercado. Quer dizer, se um investidor tem a concessão do porto e da linha férrea, certamente que não oferecerá as melhores condições para os outros operadores. Então, é preciso ter muito cautela.
Isso depois tem implicações na competitividade da concorrência, portanto [há que analisar] se isso não vai deformar as regras do mercado. Por fim, até que ponto as empresas locais podem ganhar com a implementação destes grandes projetos. Sabemos que a capacidade local de fornecer serviços idênticos é limitada, mas é preciso também criar essa capacidade.
A Mozal [empresa privada de investimento estrangeiro para produção de alumínio] criou essa capacidade, pois formou, investiu nas empresas pequenas para que depois fornecessem o serviço à própria empresa. A ligação [a empresas locais] é fundamental que seja parte do contrato de concessão com os grandes projetos. Mas o Estado, como qualquer Estado, tem de criar mecanismos para que essa exploração seja feita com racionalidade e crie riqueza.
DW África: Tanto para os locais como para os investidores estrangeiros?
LM: Exatamente. Nós não podemos permitir que, por exemplo, daqui a 50 ou 100 anos tudo o que fica sejam buracos, com gente analfabeta e pobre. Isso são questões que nós não podemos nem ignorar nem contornar o seu debate para que possamos, daqui a alguns anos, encontrar benefícios.
Autora: Carla Fernandes
Edição: Glória Sousa / António Rocha