Intervenção militar na Líbia completa um ano e Mali sofre consequências
19 de março de 2012No cartaz amarelado, Muammar Kadhafi sorri, e veste um uniforme e óculos de sol. Ele recebeu um lugar de honra, logo ao lado da porta da loja. Kadhafi já morreu, mas o artesão maliano Sounkalo leva o líder revolucionário líbio no coração - sempre. "Nós penduramos a foto de Kadhafi, porque ele fez muito pelos africanos. Ele investiu aqui muito dinheiro. A sua morte chocou-nos e trouxe-nos muitos problemas", diz.
Sounkalo não é único a partilhar desta opinião. Na capital do Mali, Bamako, Kadhafi tem muitos fãs. Em vida, financiou muitos projetos: estradas, mesquitas e hotéis. O ex-líder líbio também preocupou-se em encontrar emprego para os malianos na Líbia rica – para que pudessem enviar dinheiro para as suas famílias.
Mudanças e desemprego
Mas tudo mudou. Os projetos de Kadhafi morreram. Muitos malianos estão desempregados na Líbia, não podem mais enviar dinheiro para o país de origem, e têm de regressar à sua terra. Entre os repatriados estão também familiares dos tuaregues, que serviram o exército de Muammar Kadhafi. Eles aproveitaram o momento propício e instigaram o conflito armado no norte do Mali.
O porta-voz dos rebeldes, Moussa Ag Attaher, declara: "Kadhafi sempre usou os tuaregues para o seu jogo de poder. Agora que ele não existe mais, os tuaregues puderam deixar a Líbia. São homens bem armados e bem formados. Entre eles há oficiais militares".
Tuaregues no Mali
Esses homens ousaram revoltar-se. Desde meados de janeiro, combatem o exército do Mali e lutam por nada menos que a independência de seu próprio país. O norte do Mali é predominantemente deserto e pouco habitado. Aqui operam contrabandistas, bem como combatentes da organização terrorista Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (AQMI). Uma região perigosa, onde estrangeiros não ousam circular, desde que a rebelião incendiou.
As Forças Armadas do Mali procuram dominar a situação, mas com poucos resultados até ao momento. Graças ao arsenal de Kadhafi, acredita-se que os rebeldes estejam melhor munidos que as tropas do governo.
Modibo Goita é docente na escola para a manutenção de paz em Bamako. "Os soldados da Líbia tinham cerca de três mil escudos anti-míssil na bagagem. Se vierem para o Mali, precisam ser desarmados e as armas devem ser enviadas de volta à Líbia. Isso faz parte do direito internacional. Mas o país nunca fez nada", revela.
As vítimas do conflito são principalmente civis. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 200 mil pessoas fugiram da guerra. Parcialmente também para os países vizinhos. Para aqueles que ficaram no norte do Mali, a situação se agrava - falta-lhes comida, segundo agências humanitárias na região.
Annette Lohmann, diretora da fundação alemã Friedrich Ebert em Bamako, diz que faltou chuva na região e revela-se confiante no apoio da comunidade internacional. "A ajuda internacional funciona. Existe. Mas, por causa dos conflitos touaregues e os problemas com os refugiados a distribuição dessa ajuda fica mais difícil, especialmente no norte do país", afirma.
Autora: Nádia Issufo
Edição: Cris Vieira / Renate Krieger