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Cabo Delgado: Total só regressará com intervenção externa?

22 de abril de 2021

Especialista em assuntos africanos Fernando Cardoso entende que o Governo de Moçambique cedeu e aceita agora intervenção estrangeira para garantir segurança. Retirada da petrolífera Total terá nuances de ameaça.

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BG I Alltag und Militarismus in Cabo Delgado
Foto: Roberto Paquete/DW

Depois dos sangrentos ataques terroristas de 24 de março contra Palma, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, a petrolífera Total suspendeu as suas operações de exploração de gás na região. Por consequência, a multinacional francesa despediu 56 mil trabalhadores e rescindiu contratos com fornecedores, afetando centenas de empresas, um baque para a frágil economia moçambicana que já levou o empresariado local a manifestar preocupação.

A suspensão das atividades em nuances de ameaça ao Governo moçambicano? O especialista em assuntos africanos Fernando Cardoso não tem dúvidas: "Claro que tem. Recorrentemente, com as novas tecnologias de pesquisa, podem ser descobertas novas jazidas de gás. O mapeamento e a descoberta de novas reservas de gás ainda não terminaram e nada nos garante que não existam outros depósitos de gás que estejam em condições mais económicas e em maior segurança para os investidores, apesar de a Total já ter gasto bastante dinheiro", explica.

"Governo mudou de opinião"

Em simultâneo com a saída temporária da Total de Cabo Delgado, os projetos de exploração de gás na Tanzânia e de petróleo no Uganda ganham novo folêgo - envolvendo a Total. Outro sinal que faz consolidar as desconfianças de que a multinacional francesa pode mesmo abandonar Cabo Delgado se Maputo não garantir segurança.

Mosambik Palma | nach Angriff von Rebellen
Vista aérea das instalações da Total em Afungi, Cabo Delgado.Foto: Grant Lee Neuenburg/WFP/REUTERS

A retirada da petrolífera é desvalorizada por Maputo, que parece confiar no seu regresso. Se Moçambique não tem estrutura para vencer o terrorismo, nem com a colaboração de mercenários, e não aceita oficialmente uma intervenção militar externa, que cartada lhe resta para trazer de volta a galinha dos ovos de ouro e continuar a sonhar com um futuro promissor?

"O Governo moçambicano mudou de opinião, neste momento aceita a participação de forças estrangeiras", acredita Fernando Cardoso. "Quando um primeiro ministro diz no Parlamento o que ele disse é porque aquilo que diz tem fundamento. É óbvio que ele não podia ser mais claro, ele não podia dizer concretamente porque muito provavelmente esse foi o acordo a que se chegou", afirma, remetendo para a sessão do Parlamento desta quarta (21.04) e quinta-feira (22.04), em que o Governo foi chamado a responder às perguntas dos partidos sobre Cabo Delgado.

O primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, frisou na plenária que a cooperação internacional tem vindo a ser reforçada, nomeadamente com a SADC, em "diferentes domínios", entre os quais o militar, reservando o tratamento destas "matérias sensíveis" às Forças de Defesa e Segurança.

O fim anunciado da exploração de gás no país?

Cabo Delgado: traumas de guerra, sonhos de paz

A jogada da Total não seria o único problema a tirar o sono ao Governo moçambicano. O gigante do gás Qatar é apontado como um dos que teria interesse em inviabilizar a exploração de gás em Cabo Delgado. As desconfianças sobre este país começam a deixar o campo das teorias da conspiração para ganharem algum fundamento. É que, segundo a ONG Centro para a Democracia e Desenvolvimento, o Qatar, que avança com o maior projeto de LNG (Gás Natural Liquefeito, na sigla em inglês) do mundo, avaliado em 28,75 mil milhões de dólares, poderia querer controlar o mercado, sufocando países emergentes como Moçambique.

Com suspeitas de que o Qatar poderia, então, estar a promover o terrorismo em Cabo Delgado "entramos em especulação", diz Fernando Cardoso. Mas ressalva: "Acho que é seguro dizer que se eu fosse proprietário dos poços de gás existentes no Qatar estaria satisfeito. O que não quer dizer que a minha satisfação se traduza em algo de concreto no que respeita, por exemplo, a um suporte escondido ou não de instabilidade, portanto, isso está por provar".

É caso para se vaticinar já o começo do fim da exploração do gás em Moçambique ou trata-se apenas do marco de uma nova fase marcada por renegociações de exploração, com ganhos para a Total? "Não acredito que a retirada da Total tenha a ver com ganhos futuros do ponto de vista dos acordos que já estabeleceram", responde Cardoso. "Creio que vai haver uma renegociação porque a situação mudou e não porque houvesse um objetivo de fazer chantagem de se retirar e depois pedir mais quando voltar".

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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