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Injustiças brasileiras na ótica de um rapper angolano

Luciano Nagel (Porto Alegre)23 de abril de 2014

O rapper Kanhanga vive no sul do Brasil há oito anos e lança este mês o seu terceiro álbum. Através da música, o jovem fala sobre a desigualdade social e as injustiças no país do futebol.

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Foto: Alessandro Silvas

"Revolução dos 20" é uma das músicas do novo álbum de Kanhanga, intitulado "Projeto Secreto". Na música, o rapper angolano aborda os protestos de milhares de pessoas na cidade de Porto Alegre, em junho do ano passado.

"Eu gravei durante as manifestações que ocorreram em frente da Prefeitura", conta o rapper, que nasceu na cidade de Lobito, província de Benguela, e vive há oito anos em Porto Alegre, na região sul do Brasil.

Durante os protestos na cidade brasileira, os manifestantes criticavam o aumento dos preços dos transportes públicos. A Prefeitura autorizou um reajuste de 20 centavos (cerca de 10 centavos de dólar americano) no valor das passagens, o que causou revolta na população.

Mas o novo álbum de Kanhanga não fica por aí. Além dos protestos, "traz um pouco da história da injustiça e desigualdade social que existe no Brasil."

Porträt Kanhanga
O racismo e a desigualdade social são temas recorrentes na música de KanhangaFoto: privat

"Tira as algemas de mim"

Geraldino Kanhanga do Carmo da Silva diz ter vivido essa injustiça na própria pele. Numa outra faixa do novo álbum, o músico angolano afirma: "Tira as algemas de mim, tira as algemas de mim, polícias racistas bem longe de mim".

A letra da música relata como o rapper angolano se sentiu, ao ser preso, por engano, pela polícia militar de Porto Alegre, no final de fevereiro. Ele foi acusado por uma vítima de ter roubado um aparelho celular.

"Fui algemado quando saía do estúdio. Nunca me passou pela cabeça que me ia acontecer uma coisa assim, foi horrível", lembra Kanhanga. "Sabendo que se é inocente, ser algemado na rua, em plena luz do dia, com as pessoas passando e olhando. Eu fiquei assustado. Porque nunca se sabe até que ponto você pode contar com a idoneidade do polícia."

O rapper acabou por ser libertado, depois da vítima constatar que ele não tinha sido o ladrão. "Mas isso depois de eu ficar quinze minutos algemado." O episódio ficará agora para sempre registado na música de Kanhanga (pode ouvir alguns excertos na reportagem áudio, em baixo).

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