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Liberdade de imprensaMoçambique

Incêndio ao Canal de Moçambique: "Atentado à liberdade"

24 de agosto de 2020

Esta é a reação do Sindicato Nacional dos Jornalistas moçambicanos ao incêndio que deflagrou, no domingo, os escritórios do semanário Canal de Moçambique, em Maputo. Sociedade civil e a oposição também se manifestaram.

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Foto: Adriano Nuvunga/CDD

O editor do jornal Canal de Moçambique não tem duvidas: o incêndio que destruiu os escritórios do Canal de Moçambique, na noite deste domingo (23.08), em Maputo, é mão criminosa.

Em entrevista à DW África, esta segunda-feira, Matias Guente relatou que os autores deste incidente arrombaram as portas e, com recurso a uma bomba artesanal, incendiaram a redação e outros compartimentos.

 "Após terem arrombado a porta, introduziram lá bombas artesanais e recipientes de combustíveis. Ou seja, regaram todo o escritório com combustível e quando entras lá dentro tudo exala a combustível", contou.

Mosambik | Feuer in der Redaktion der Zeitung Canal de Mocambique | Mateus Guente
Matias Guente, editor do Canal de MoçambiqueFoto: DW/R. da Silva

Ameaça aos jornalistas 

Para o editor-executivo do Canal de Moçambique, pelas circunstâncias em que ocorreu o  incêndio, trata-se de uma ameaça ao trabalho dos jornalistas. "Para qualquer leigo, este é um atentado terrorista contra a liberdade de expressão e de imprensa, porque nunca vimos na história deste país que tenham queimado os jornais".

Matias Guente considerou ainda que o incêndio corresponde a uma "sequência lógica":  "uns são raptados, outros são partidos pernas e outros são intimidados. Isto está dentro de uma cadeia que agora provavelmente tenham elevado o nível de ameaças".

Todo o material de trabalho do jornal ficou reduzido a cinzas mas a publicação vai sair nesta quarta-feira, garantiu Matias Guente. No entanto, agora a preocupação é com a sua segurança.

"Estamos preocupados, mas não vergamos a estes ataques cobardes e continuamos a fazer o nosso trabalho normal. Há preocupação e muita pressão psicológica, porque entendemos o meio em que estamos a funcionar e não sabemos porque ontem foi atacado o editor, hoje incendiaram os escritórios e não sabemos o próximo passo".

Mosambik | Feuer in der Redaktion der Zeitung Canal de Mocambique
Foto: Adriano Nuvunga/CDD

Sindicato exige investigação 

O Sindicato Nacional dos Jornalistas de Moçambique (SNJ) reagiu a este incidente, tendo o secretário-geral, Eduardo Constantino, exigido uma investigação para identificar os autores deste crime.

"Pedimos que os autores sejam identificados, julgados, condenados a indemnizar o Canal de Moçambique pelos prejuízos causados", apelou Constantino.  

O secretário-geral do SNJ mostrou-se agastado com os cenários de intimidação de jornalistas em Moçambique, não só sobre este último incidente, mas também sobre o que esta a acontecer com os que estão a trabalhar em Cabo Delgado.

"Sobre os atentados à liberdade de expressão e de imprensa em Moçambique neste ano, este não é o primeiro. E já houve tantos outros e de fato temos problemas de de impedimento de jornalistas de realizarem os seus trabalhos, isso é um atentado", denunciou o representante sindical dos jornalistas.

Mosambik | Feuer in der Redaktion der Zeitung Canal de Mocambique | Eduardo Constatino
Eduardo Constatino, presidente do Sindicato Nacional dos Jornalistas moçambicanosFoto: DW/R. da Silva

O jornal Canal de Moçambique vai temporariamente funcionar embaixo de uma tenda improvisada no pátio do prédio onde estão localizados.

Organizações condenam ataque ao jornal

Entretanto, o Instituto para a Comunicação Social da África Austral - MISA Moçambique condenou esta segunda-feira (24.08) o incêndio que destruiu a redação do semanário moçambicano, classificando-o como "bárbaro e cobarde".

"O MISA Moçambique lamenta profundamente que atos atentatórios contra a liberdade de expressão e contra a liberdade de imprensa aconteçam no país com regularidade, sem que os seus autores e promotores sejam responsabilizados", frisou o instituto através de um comunicado.

Outras organizações da sociedade civil, individualidades e políticos solidarizam-se com a publicação pelo incidente, através de comunicados ou pela presença física. A embaixada norte-americana em Maputo disse que "os danos aparentemente intencionais e extensivos nos escritórios de uma respeitada instituição de meios de comunicação social têm impacto no estado da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa em Moçambique". 

Presidente defende investigação séria

O Presidente Filipe Nyusi também condenou o ataque e avançou que as autoridades foram instruídas para investigar e trazer os autores à "barra da justiça". 

"Condeno veementemente os ataques ao Canal de Moçambique. A Liberdade de Imprensa é um pilar da democracia e conquista dos moçambicanos que deve ser protegida", disse o chefe de Estado moçambicano, numa breve nota divulgada esta segunda-feira na sua página do Facebook.  

Por seu turno, o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, considerou que o incêndio ao jornal é um "grave ferimento à democracia e ao Estado de Direito". Numa mensagem partilhada na sua página no Facebook, Ossufo Momade disse que "os autores desse crime não devem ficar impunes como sempre".

Artigo atualizado às 18h06 do Tempo Universal Coordenado

Pandemia tornou-se justificação para atacar jornalistas