Imigrantes africanos refugiam-se em Itália à procura do sonho perdido
27 de agosto de 2013
Milhares de imigrantes africanos deixam os seus países em busca de trabalho na União Europeia, mas os que ficam em Apúlia, no sul da Itália, acabam por viver ilegalmente da agricultura, muitas vezes sujeitos a trabalhos forçados e sob o domínio da máfia.
Ibra Mbacke, um senegalês de 32 anos, é um dos muitos imigrantes desta região italiana. Vive numa cabana de plástico e papelão com outros 20 homens, a maioria proveniente do oeste africano. Em frente à casa improvisada, uma enorme pilha de lixo acumulada há semanas atrai moscas e exala um cheiro pestilento. Mas Ibra Mbacke não está sozinho. No gueto, há dezenas de cabanas iguais, sem água potável, eletricidade ou saneamento básico.
Na cabana, os colchões ficam lado a lado, separados por poucos centímetros. Cordas suspensas no teto funcionam como armários para pendurar as roupas. Os sapatos ficam no chão e a comida é guardada em potes de plástico.
Uma Europa pouco diferente
Ibra Mbacke deixou o Senegal para escapar à pobreza, numa viagem arriscada por mar, para encontrar um cenário pouco diferente do que conhecia diariamente em África.
“Vim para cá para ter uma vida melhor, uma vida que pudesse mudar muita coisa. Vim para ter um bom trabalho, para ajudar a sustentar a minha família no Senegal”, explica.
É carpinteiro de profissão, mas, em Itália, conseguiu apenas trabalho nas colheitas de fruta e vegetais. Trabalhos mal pagos que os italianos, habitualmente, não querem fazer. Porém, com o país à beira da recessão, até esses empregos estão em falta.
“Há três meses que não consigo enviar-lhes nada. Tento explicar-lhes que não tenho trabalho e dinheiro para mandar, mas eles não acreditam em mim, pensam que eu estou a negligenciar a minha família e a divertir-me aqui na Europa”, lamenta.
Ibra ganhava 3,50 euros por hora, pagos pelos Caporali, a máfia italiana e africana. Estas organizações criminosas ficam com quase 50% dos salários dos imigrantes e os fazendeiros aproveitam-se da mão-de-obra barata que a máfia lhes oferece.
Gianfranco Savino, presidente de uma Câmara local, admite que nunca fez nada para ajudar os africanos que vivem nos guetos.
“Em Itália, sobretudo neste período, vive-se uma crise económica. Temos uma infinidade de pessoas necessitadas que se encontram mais ou menos na mesma situação que as pessoas dos guetos. A esse nosso grande problema soma-se este da imigração”, justifica.
Autoridades indiferentes
Archangelo Maira, um padre católico que regularmente visita o gueto e organiza cursos de italiano para os imigrantes, diz que não há interesse em solucionar a questão dos africanos em Apúlia.
“Quando vejo as instituições, Governo, Câmara, polícia, imigração, Finanças… São tantas as autoridades que poderiam fazer alguma coisa, mas não fazem. Essas instituições, de alguma forma, têm interesse em manter esse sistema”, critica, questionando: “Com toda a força, organização e meios que temos, como não fazemos nada?”
Enquanto isso, o senegalês Ibra Mbacke acredita que voltar para o Senegal seria sinal de uma grande derrota. Além disso, não tem dinheiro para comprar uma viagem de regresso e as suas economias estão praticamente no fim. Para ele, não há outra alternativa para além de continuar em Apúlia à procura de emprego.