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MigraçãoTunísia

Imigrantes africanos fogem de onda de violência na Tunísia

Karim Kamara | nn | com agências
7 de março de 2023

O Presidente tunisino, Kaïs Saïed, iniciou uma repressão massiva contra imigrantes subsaarianos. As autoridades de vários estados africanos já começaram a repatriar os seus cidadãos.

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Migrantes junto à sede do ACNUR, em TunesFoto: FETHI BELAID/AFP

Centenas de imigrantes africanos na Tunísia estão a regressar aos países de origem com histórias horríveis para contar. "Eles mandaram-nos embora das nossas casas, é deplorável. Às 22h00, bateram-nos à porta de casa e mandaram-nos sair dos quartos. Não podíamos comprar pão nas lojas e éramos expulsos dos mercados", conta Mariama Bangoura, que está de volta a Conacri. "Estamos satisfeitos por estar de volta a casa", afirma.

Casos como o de Mariama Bangoura multiplicam-se. Os imigrantes negros da Tunísia estão a ser perseguidos desde 21 de fevereiro, quando o Presidente Kaïs Saïed fez um discurso incendiário e racista, alegando que a migração irregular de outras partes de África fazia parte de uma conspiração internacional para mudar o carácter da Tunísia e que era responsável pela violência generalizada.

Nos dias e semanas que se seguiram, centenas de famílias migrantes foram despejadas de casa, as crianças retiradas às famílias e bairros inteiros foram invadidos por oficiais do Estado. Muitas pessoas fecharam-se em casa com medo de serem o alvo da ira popular. 

Tunesien Tunis | Präsident Kais Saied
Presidente Kaïs SaïedFoto: Nicolas Fauque/Images de Tunisie/abaca&picture alliance

Agressões, detenções e pânico

Tal é a escalada da ameaça que os Governos do Mali, Costa do Marfim e Guiné-Conacri já organizaram voos de repatriamento.

Ibrahima Diallo relata os momentos de pânico que viveu na Tunísia antes do regresso à Guiné-Conacri: "Quando começaram as detenções, a população não sabia, era entre os negros e as autoridades. Quando o Presidente fez um discurso racial e de ódio contra os migrantes negros, aí a população começou a interferir e agredir os negros. Eu presenciei grande parte dos ataques. Levavam-nos o frigorífico, a televisão e todos os pertences sem que as autoridades dissessem uma palavra".

"Acho que a União Africana verá o desastre criado pela situação da Tunísia, como se os tunisinos no mundo não fossem imigrantes como na Europa", considera Boka Sako Gervais, um proeminente ativista dos direitos humanos na Costa do Marfim, para onde já regressaram dezenas de cidadãos.

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Migrantes acampados junto à embaixada da Costa do Marfim, em TunesFoto: Fethi Belaid/AFP

Comunidade internacional preocupada

O caso está a chocar o mundo. O Banco Mundial suspendeu mesmo as conversações sobre o seu futuro envolvimento com a Tunísia na sequência dos comentários anti-imigrantes deKaïs Saïed, de acordo com um comunicado interno citado pela AFP. Na mensagem enviada no domingo à noite, o presidente cessante do banco, David Malpass, afirma que as palavras de Saïed desencadearam "assédio racial e até violência", e que a instituição resolveu adiar uma reunião planeada envolvendo a Tunísia até novo aviso. "Dada a situação, a direção decidiu interromper o Quadro de Parceria com o país e retirá-lo da revisão do Conselho de Administração", lê-se no documento.

Nos Estados Unidos, a situação mereceu um posicionamento do departamento de Estado norte-americano, nas palavras do porta-voz Ned Price: "Estamos profundamente preocupados com os comentários do presidente Saïed sobre a migração da África subsaariana para a Tunísia e relatos de prisões arbitrárias de migrantes nas últimas semanas".

"Estas observações não estão de acordo com a longa história de generosidade da Tunísia no acolhimento e proteção dos refugiados, requerentes de asilo e migrantes. E estamos preocupados com os relatos de violência contra esses mesmos migrantes. Instamos as autoridades tunisinas a cumprir as suas obrigações sob o direito internacional de proteger os direitos dos refugiados, requerentes de asilo e migrantes", apelou Ned Price.

A 25 de fevereiro, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, condenou "as declarações chocantes feitas pelas autoridades tunisinas contra os compatriotas africanos". O ex-primeiro-ministro do Chade registou, em comunicado, que essas declarações vão "contra a letra e o espírito" da União Africana e os seus "princípios fundadores".

No mesmo dia, várias centenas de pessoas protestaram na capital tunisina contra o racismo que visa os migrantes oriundos de países da África Subsariana, exigindo um pedido de desculpas do Presidente.

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