Imagens de agressão a polícias geram revolta em Angola
7 de maio de 2021Continuam as reações de condenação e repúdio a dois vídeos que se tornaram virais a semana passada em Angola. Nas redes sociais, como Facebook e WhatsApp, assiste-se a agressão de agentes da polícia por parte de alguns jovens, sem que estes reajam.
Entre os indignados com as imagens registadas e divulgadas, estão políticos, ativistas e académicos, que condenam o ato protagonizado por jovens nas províncias da Huila e em Cabinda.
Na sua página no Facebook, o jurista e académico Domingos das Neves repudiou a atitude. Á DW África, Das Neves diz que é preciso respeitar a instituição que visa garantir a ordem e a segurança públicas.
"As imagens não só espelham que estamos longe de um convívio cívico, civil e civilizado entre os cidadãos como também demonstra claramente o desrespeito que os cidadãos ainda têm para com este órgão importante que é o da Polícia Nacional de Angola (PNA)", opina Das Neves em entrevista à DW África.
Por isso, o jurista defende que "se deve investir cada vez mais em educação democrática e civismo" para os jovens e haver "correspectividade da parte da polícia".
Investimento na formação
A polícia angolana debate-se com problemas de condições de trabalho. Há relatos de esquadras que não têm tinteiros para a impressão de um documento por exemplo. "É necessário que se criem condições, quer de âmbito material quer de âmbito humano, para que a polícia possa exercer aquele que realmente é o seu papel”, diz Kasungo Ndala, ativista social, salientando a importância da valorização deste órgão por parte do Estado.
As forças de defesa e segurança são os órgãos do Estado com maior fatia orçamental. Domingos das Neves explica porque não são reunidas melhores condições para os efetivos angolanos.
"O que falta é um elemento fundamental: a chamada transparência. Porque, de facto, o Orçamento Geral do Estado prevê uma grande fatia para os órgãos de defesa e segurança, mas vemos cada vez mais, os órgãos de policias a serem dotados somente de ferramentas materiais, como carros e armamentos novos. Mas isso só não é necessário”, crítica.
Domingos diz que é necessário garantir às pessoas que estão dentro da farda, atrás dos armamentos e dentro dos carros, ferramentas de formação de natureza psicológica, tática e técnica para que a sua tarefa seja cumprida.
"Precisamos de uma polícia de proximidade que garanta também nas suas ações a confiança aos cidadãos. Esse, para mim, é o apelo que deixo, para os próprios cidadãos e às instituições do Estado, competentes nessa matéria”, diz o jurista.