Nobel da Paz contra armas atómicas
6 de outubro de 2017Oficialmente criada em 2007, em Viena, à margem de uma conferência internacional sobre o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, a Campanha Internacional para a Eliminação das Armas Nucleares -ICAN na sigla inglesa - tem conseguido mobilizar para a sua causa ativistas e celebridades de todo o mundo. É o caso do Dalai Lama, do arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu, ele próprio já distinguido com o prémio Nobel da Paz, ou do músico de jazz Herbie Hancock.
Para Beatrice Fihn, diretora executiva da organização não-governamental sediada em Genebra, na Suíça, o prémio rende homenagem "a muitos milhões de atvistas incansáveis que desde o despontar da era atómica protestam contra as armas nucleares e insistem que elas não têm um propósito legítimo e devem ser para sempre banidas do nosso planeta".
A ICAN é uma coligação internacional que reúne centenas de organizações humanitárias, ambientais, de direitos humanos, pacifistas e de apoio ao desenvolvimento de cerca de 100 países. A organização teve um papel fulcral no lançamento, em julho, de uma petição nas Nações Unidas, que visa a assinatura de um tratado para a eliminação das armas nucleares.
Vitórias simbólicas de significado prático
Apesar de ter sido considerada uma vitória simbólica, dado o boicote ao texto de nove potências nucleares, nomeadamente Estados Unidos, Rússia, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte, a petição entrará em vigor assim que for ratificada por 50 Estados.
Para a porta-voz da secção alemã da campanha anti-armas nucleares, Anne Balzer, o Nobel da Paz assume uma importância específica no contexto da situação política atual: "Este é o momento indicado para o prémio, se tomarmos em conta as tensões entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos da América, que se agravam todos os dias. O prémio é um tributo à decisão de 122 Estados que no mês de julho passado decidiram enveredar por outro caminho: o do desarmamento e da política de paz".
Era largamente esperado que o Comité Nobel este ano virasse a atenção para o problema do armamento atómico. A Coreia do Norte tem vindo a testar mísseis nucleares de grande alcance que representam uma ameaça global. Enquanto isso, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump promete aniquilar o país asiático. Trump põe ainda em causa o tratado nuclear assinado com o Irão, considerado de importância central para a segurança do mundo, sem explicar concretamente porquê.
Contra a destruição da Terra
Referindo-se à volatilidade de Trump, a diretora executiva da ICAN, Beatrice Fihn disse: "A quem causa desconforto a ideia de que Donald Trump tem o poder de ativar armas nucleares, deverá sentir desconforto com a ideia de armas atómicas de um modo geral. É isso que pretendemos que as pessoas entendam. Não há ninguém a quem possamos confiar a capacidade de destruir o mundo inteiro".
Isso mesmo foi tido em consideração na argumentação do Comité Nobel norueguês ao atribuir o prémio à ICAN, que considerou "um líder da sociedade civil" do movimento contra as armas nucleares, que desenvolveu esforços para "estigmatizar, proibir e eliminar" este tipo de armamento, cujo uso provocará "inaceitável sofrimento humano".
A ICAN, cujo orçamento anual ronda os 852 mil euros, é financiada por doadores privados e por contribuições da União Europeia (UE) e de vários países, como a Noruega, Suíça, Alemanha e Vaticano. O Prémio Nobel da Paz é dotado de cerca de 950 milhões de euros.