Há mais crianças em situação de risco nas lixeiras de Angola
16 de junho de 2021Há cada vez mais crianças a passar o dia nas lixeiras à procura de comida, na província do Bengo. Faltam às aulas para virem para aqui, devido à pobreza extrema das famílias.
A DW África constatou a situação num dos amontoados de lixo, em Caxito. O que comeram desde que se levantarm? "Nós não comemos", respondem as crianças.
Uma vendedora ambulante, que pediu o anonimato, vê todos os dias as crianças na lixeira e lamenta a situação. "É muito triste, as crianças têm pai, têm mãe e ficam na rua."
Desnutrição afeta 1,9 milhões de crianças
Em maio, um relatório das Rede Global Contra as Crises Alimentares estimava que 1,9 milhões de crianças angolanas, menores de 5 anos, sofrem de múltiplas formas de desnutrição. Isso provoca bastantes problemas de saúde à medida que crescem.
O diretor do Instituto Nacional da Criança no Bengo, Luciano Chila, pede um trabalho conjunto com os pais para tirar as crianças das lixeiras e levá-las para as escolas.
"Todo o cidadão desta província, em qualquer lugar, quando vê um filho de outra pessoa a ir à lixeira recolher este tipo de produto, logo, deve recorrer aos pais e informar o ato que o seu filho está a praticar", apela.
Proteger as crianças é responsabilidade do Estado
Mas o jornalista Manuel Godinho diz que isso não chega. O profissional lembra que proteger as crianças é ultimamente uma responsabilidade do Estado. Segundo Manuel Godinho, o trabalho do Governo deve incidir na erradicação da pobreza nas famílias – só assim as crianças deixarão de ir para a lixeira.
O dinheiro recuperado no combate à corrupção pode ser usado para ajudar estas famílias, sugere o jornalista. "As pessoas não suportam a fome, vão sempre procurar um escape para enganar a própria fome, quer se alimentem bem ou mal. E agora mesmo que estamos a falar que recuperamos alguns milhões de dólares, devíamos começar a pensar em criar bolsas de pobreza para ver como dar algum conforto a estas famílias."
A diretora do Gabinete da Ação Social, Família e Igualdade do Género, Felisberta da Costa, garante que o Governo, sempre que pode, apoia as famílias carenciadas. "O governo quando tem as possibilidades de apoiar, nós apoiamos. Hoje também os nossos orçamentos emagreceram e não tem sido fácil nós darmos sempre", justifica.
Na província, "temos apoiado as cooperativas onde são enquadradas as mulheres, porque, se nos agruparmos em cooperativas e recebermos os apoios, podemos melhorar o autossustento das famílias", conclui.