"Hospital é da FRELIMO": Declarações de Chapo geram críticas
24 de setembro de 2024O candidato presidencial da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Daniel Chapo, disse num comício de campanha eleitoral no Niassa, norte de Moçambique, que os setores da educação e saúde e os fármacos em diversas unidades sanitárias pertencem à FRELIMO.
"O hospital é da FRELIMO, quando fica doente vai ao hospital da FRELIMO, os medicamentos são da FRELIMO, quando cura diz que a FRELIMO não fez nada", disse o candidato da FRELIMO .
Estes pronunciamentos foram alvo de duras críticas nas redes sociais que os qualificaram como "infelizes".
O jurista e criminalista José Capussura classifica estes pronunciamentos como "os mais infelizes" de todos os que Chapo fez durante a campanha. "Estamos num período o qual tentamos lutar para que haja uma separação nítida entre o partido e as instituições do Estado. Ao fazer este pronunciamento está a revelar que não há separação nenhuma."
O jurista critica Daniel Chapo sobretudo por ser uma pessoa que entende "muito bem" de matérias de direito. "E é exatamente neste sentido que deve ter uma interpretação mais avisada sobre a separação entre o partido e o Estado porque esta é uma grande luta que os moçambicanos estão apostados a fazer e o candidato do partido FRELIMO, por se tratar especificamente de um jurista e ter um sentido avisado em matérias jurídicas, não pode cometer estas gafes", salienta Capassura.
Despartidarizar o Estado
As instituições do Estado, sobretudo as escolas, têm-se queixado da presença do partido no poder para manipular profissionais da área para defender interesses da FRELIMO. É por isso que o presidente da Associação dos Professores Unidos, Avatar Cuamba, não entende porque o candidato Chapo confunde Estado e partido.
"Devemos protestar contra este tipo de Estado porque está a minar o nosso país. A partidarização do Estado é algo a ser erradicado no nosso país. Estamos a fechar cinco décadas de governação e parece que ainda estamos nos primeiros anos", critica.
Avatar Cuamba diz que Daniel Chapo tem de desconstruir a ideia de que as instituições do Estado nacionalizadas pouco depois da independência, em 1975, pertencem à FRELIMO.
"Há que referir as escolas que foram nacionalizadas e que foram construídas pelo governo nesses quase 50 anos e considerá-las como parte deste partido, então estamos a passar por um grande problema dado que não há condição e o candidato não consegue fazer a distinção do que é propriedade dos moçambicanos e do que é do partido em alusão", destaca.
O presidente da APU considera que a partidarização do Estado é visível nas escolas. Diz que alguns gestores escolares e seus adjuntos abandonam o seu compromisso com o Estado para atender questões partidárias, "dado que a sua ausência se consubstancia com o não-alinhado e estão a criar pressão aos seus subordinados porque esse problema não está apenas nos chefes."