Hong Kong: Manifestantes desafiam polícia
3 de agosto de 2019Milhares de manifestantes reuniram-se, este sábado (03.08), em Mong Kok, um movimentado bairro comercial com um histórico de acolhimento de manifestações pró-democracia, em Hong Kong, na China.
Os manifestantes ignoraram os limites impostos pela polícia e ultrapassaram o local definido para o fim da manifestação, mesmo depois da polícia ter alertado, num 'briefing' antes da manifestação, que seria considerado ilegal ultrapassar este limite e que qualquer protesto que não tivesse sido autorizado seria considerado assembleia ilegal. As autoridades afirmaram mesmo estar preparadas para intervir se a situação se tornar "intolerável".
No entanto, o editor-chefe do jornal estatal Global Times, Hu Xijin, afirma ser improvável que haja intervenção militar. "O Exército de Libertação do Povo de Hong Kong é um símbolo da soberania nacional e não pode ser considerado como apoio policial", disse Hu.
Ainda assim, e atendendo ao uso crescente da força por parte das autoridades, os manifestantes assumiram algum receio. "Estou um pouco preocupado com a possibilidade das autoridades usarem a violência contra os manifestantes, porque o trajeto da manifestação é feito por ruas estreitas, e se quisermos abandoná-lo, pode ser difícil escapar da polícia", disse um manifestante.
Nova greve
Por outro lado, garantiu à AFP, Ah Kit, de 36 anos, "quanto mais o governo nos reprimir, mais sairemos".
Durante os protestos deste sábado (03.08), os ativistas ergueram barricadas num centro comercial popular do bairro Mong Kok, bloquearam um importante túnel da região e cercaram esquadras da polícia onde os serviços não urgentes foram suspensos.
Para além das manifestações deste sábado em Mong Kok, uma área onde os manifestantes instalaram uma zona de protesto pró-democracia em 2014, estão previstas duas outras marchas para este domingo (04.08). Na segunda-feira (05.08), é esperada uma nova greve.
O apelo à greve desta segunda-feira parece estar a ganhar mais força do que as paralisações anteriores, com uma série de organizações e sindicatos a garantirem a sua participação.
Dois meses de protestos
Hong Kong vive há dois meses um clima de contestação social, com milhares de pessoas nas ruas contra uma proposta de lei que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial chinesa a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora o que os manifestantes afirmam ser uma "erosão das liberdades" na antiga colónia britânica. Os protestantes exigem agora eleições diretas e uma investigação à alegada brutalidade policial.
Os protestos que duram há dois meses e que têm sido maioritariamente pacíficos foram evoluindo para confrontos com a polícia devido à recusa de alguns manifestantes em dispersar às horas previstas. Nos últimos dois meses foram vandalizados edifícios e atirados tijolos pelos manifestantes, tendo a polícia respondido com gás lacrimogéneo e balas de borracha. Esta semana, as autoridades de Hong Kong acusaram formalmente 44 pessoas de participarem em tumultos, o que acarreta uma pena de até 10 anos de prisão.