Herói de "Hotel Ruanda" é libertado da prisão
25 de março de 2023Paul Rusesabagina, o homem que inspirou o filme "Hotel Ruanda", foi libertado da prisão na noite desta sexta-feira (24.03). A informação foi avançada por fontes do Governo norte-americano.
Anteriormente, o Governo do Ruanda havia anunciado a redução da pena de 25 anos de prisão do opositor.
Após a sua libertação, o homem de 68 anos foi entregue ao embaixador do Qatar em Kigali.
Rusesabagina foi condenado em setembro de 2021, após ser acusado de terrorismo num julgamento amplamente criticado por ativistas e organizações dos direitos humanos.
"Estamos satisfeitos por ouvir as notícias sobre a libertação de Paul. A família tem esperança de se reunir com ele em breve", disse a família Rusesabagina numa declaração.
Quem é Paul Rusesabagina?
Durante o genocídio de 1994, no Ruanda, cerca de 800.000 pessoas, na sua maioria da minoria Tutsi, foram mortas pela maioria étnica Hutu.
Rusesabagina era o gerente de um hotel na capital, Kigali, na altura em que a violência eclodiu. É-lhe creditada a ajuda para salvar as vidas de pelo menos 1.200 pessoas, abrigando-as no hotel.
O filme "Hotel Ruanda", nomeado com um Óscar em 2004, que protagoniza o ator americano Don Cheadle, foi inspirado na história de Rusesabagina.
Paul Rusesabagina deixou o Ruanda em 1996, mudando-se primeiro para a Bélgica e depois para os Estados Unidos.
Após a chegada ao poder do Presidente ruandês Paul Kagame, em 2000, Rusesabagina tornou-se um crítico veemente do Governo, apontando particularmente para alegadas violações dos direitos humanos. O Governo, no entanto, nega qualquer ato ilícito.
Porque é que Rusesabagina foi condenado?
Rusesabagina prometeu o seu apoio à Frente Nacional de Libertação num vídeo divulgado em 2018. O grupo armado é considerado uma organização terrorista pelo Governo do Ruanda.
"Chegou o momento de utilizarmos todos os meios possíveis para provocar uma mudança no Ruanda, uma vez que todos os meios políticos foram julgados e falharam", declarou no vídeo.
Rusesabagina, cidadão belga e detentor de um green card norte-americano, foi detido em 2020 depois de ter desaparecido durante uma visita ao Dubai, nos Emiratos Árabes Unidos. Disse que tinha planeado voar para o Burundi, mas o voo foi desviado para o Ruanda.
O Governo ruandês levou-o a julgamento por ser inimigo do Estado, um movimento criticado pelos Estados Unidos e pelas Nações Unidas. Rusesabagina negou todas as acusações e recusou-se a participar no julgamento, mas foi condenado a 25 anos de prisão em setembro de 2021 por acusações incluindo homicídio, rapto, e terrorismo.
O secretário de Estado norte-americano Anthony Blinken manteve conversações com Kagame no Ruanda no ano passado e discutiu o caso. "Ainda temos a convicção de que o julgamento não foi justo", disse Blinken à imprensa na altura.
Intenções de Kigali
O Ruanda justificou na sexta-feira a decisão de comutar a sentença de 25 anos de cadeia de Paul Rusesabagina como visando "restabelecer" os laços com os Estados Unidos.
O anúncio da comutação da sentença acontece quase duas semanas depois de o Presidente Kagame ter anunciado, durante uma visita ao Qatar, que estavam em curso "discussões" sobre a prisão de Rusesabagina.
Após a libertação de Rusesabagina, o Governo do Qatar anunciou que ele voaria para Doha e depois para os Estados Unidos.