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TerrorismoAlemanha

Heinrich XIII, o príncipe extremista que planeou um golpe

Elizabeth Schumacher
8 de dezembro de 2022

Príncipe herdeiro e líder de um grupo de extrema-direita, Heinrich XIII estaria a planear uma invasão ao Parlamento para derrubar o Governo alemão. Foi detido, esta quarta-feira, na cidade de Frankfurt.

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Festnahme  Heinrich XIII Prinz Reuß /Razzia Reichsbürger-Szene - Frankfurt
Heinrich XIII foi detido esta quarta-feira (07.12)Foto: Boris Roessler/dpa/picture alliance

Há mais de um século, os antepassados de Heinrich XIII, príncipe de Reuss, governaram a cidade de Gera e arredores, no que é hoje o estado da Turíngia, no leste da Alemanha. Se Heinrich tivesse conseguido levar o seu plano avante, tudo isso e muito mais seria dele em resultado de um golpe de Estado que estaria a planear contra o Governo de Berlim.

Na manhã desta quarta-feira (07.12), a polícia alemã deteve o príncipe e 24 outros suspeitos de serem cúmplices deste plano em vários estados do país.

"Conheça o homem que queria tornar-se rei da Alemanha" foi um tweet partilhado vezes sem conta nas redes sociais. O líder do partido A Esquerda, Dietmar Bartsch, por exemplo, foi um dos que o partilhou.

Segundo as autoridades alemãs, os detidos pertencem a uma rede de "teóricos da conspiração" chamada "Reichsbürger" (Cidadãos do Império Alemão), que estima-se que tenha cerca de 21 mil seguidores.

Outrora um grupo marginal, o grupo entende que o Governo alemão é ilegítimo desde o fim da Segunda Guerra Mundial. E defende que a Constituição alemã, o chanceler Olaf Scholz e o Bundestag (Parlamento alemão) fazem parte de um sistema criado pelos Aliados no final da Segunda Guerra Mundial para fazer da Alemanha um Estado vassalo aos seus interesses.

Golfe, imobiliário e conspirações

Com 71 anos, o príncipe Heinrich divide o seu tempo entre Frankfurt, onde se localiza a sua empresa imobiliária e o seu clube de caça na Turíngia. Foi neste clube que acolheu os simpatizantes do "Reichsbürger", bem como o "Princely Hickory Golf Club Reuss".

Entre a organização de clubes de golfe para as elites locais e a venda de imóveis, Heinrich XIII encontrou tempo para preparar uma palestra sobre as suas teorias para o World Web Forum, em Zurique (Suíça), em 2019.

Na ocasião, Heinrich reiterou a sua crença de que, como não houve um tratado de paz no final da Segunda Guerra Mundial, a atual República Federal não tem uma base válida. Ou seja, concluiu, o único passo lógico, na sua opinião, seria devolver a Alemanha aos tempos do Kaiser (Impedrador), que foi derrubado há mais de cem anos contra a vontade do povo, afirmou ele.

Horrorizados, alguns participantes abandonaram a sala, outros vaiaram o discurso do príncipe, que foi convidado para o evento à última hora após a desistência de um dos oradores.

Processo contra o Governo alemão

Heinrich XIII, que foi casado com uma modelo e é amante de corridas de automóveis, fez durante anos campanha para que o mausoléu da sua família, no centro da cidade de Gera, fosse reconstruído.

Tal como outros membros da família - o príncipe tem cinco irmãos - Heinrich XIII exigiu do Estado alemão uma indemnização pela expropriação de bens artísticos e culturais. Em resultado, em 2017, o grupo de herdeiros recebeu 3,1 milhões de euros.

Verhaftung Heinrich XIII Prinz Reuß | Razzia gegen Reichsbürger-Szene | Frankfurt Main
Operação levou à detenção de 25 pessoasFoto: Boris Roessler/dpa/picture alliance

No entanto, tentativas seguintes de Heinrich de processar o Governo alemão para recuperar terrenos e propriedades que ele afirma serem seus falharam. Heinrich gastou avultadas somas de dinheiro nesta luta, tendo começado a alegar que existia uma conspiração contra si no sistema judicial alemão.

Ao mesmo tempo, continuou a coordenar uma "tropa de defesa da pátria" que, de acordo com os serviços de segurança de Berlim, tinha algumas dezenas de membros a planear um ataque violento contra o Parlamento. Entre os suspeitos estão antigos e atuais membros das Forças Armadas e da polícia.

Em declarações à imprensa local, pessoas que conhecem o príncipe afirmaram desconhecer que ele seria o líder de um grupo terrorista de extrema-direita. No entanto, a sua família distanciou-se dele há alguns meses. Um porta-voz da Casa de Reuss afirmou, na altura, que Heinrich era um idoso confuso que acreditava em "teorias de conspiração erróneas".

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a primeira Constituição democrática da Alemanha aboliu oficialmente a realeza e a nobreza, e os respetivos privilégios e imunidades legais. Atualmente, a nobreza alemã já não é reconhecida, e a Constituição estipula que os descendentes das famílias nobres alemãs não gozam de privilégios legais.

Rússia nega envolvimento

Ainda segundo as autoridades, a maioria dos cúmplices do príncipe são alemães. O grupo teria até um "esboço" para a organização do Governo alemão após o golpe, na qual Heinrich XIII assumiria o cargo de chefe de Estado.

Uma alegada cúmplice de Reuss, a russa Vitalia B., também foi presa durante a operação. De acordo com o Procurador-Geral, há fortes suspeitas de que ela tenha "ajudado Heinrich XIII a estabelecer contactos com representantes da Federação Russa".

A embaixada russa em Berlim já negou a sua ligação à suspeita em causa.

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