Gâmbia: Vítimas do regime de Yahya Jammeh reclamam justiça
26 de janeiro de 2020Vestidos com 't-shirts' brancas estampadas com o 'hashtag' #justicemustprevail (a justiça deve prevalecer), os manifestantes na Gâmbia exibiram no sábado (25.01) fotos de vítimas assassinadas ou desaparecidas, incluindo a da correspondente da agência de notícias francesa AFP Deyda Hydara, morta a tiro em 16 de dezembro de 2004 por servos do ex-líder.
Nas ruas de Banjul têm-se multiplicado as manifestações de opositores e apoiantes do ex-homem forte deste pequeno país da África Ocidental.
No protesto das vítimas do regime do ex-presidente da Gâmbia, os manifestantes realizaram uma marcha nos arredores de Banjul, gritando palavras de ordem. "Queremos justiça e queremos agora", exigiram.
Assumindo o poder num golpe de Estado em 1994, Yahya Jammeh liderou a Gâmbia num regime de repressão feroz durante 22 anos, marcado por casos de tortura, violação e execuções extrajudiciais.
Exílio
Em janeiro de 2017, o ex-presidente da Gâmbia foi forçado ao exílio na Guiné Equatorial, cedendo a uma intervenção militar africana depois de ter rejeitado a sua derrota presidencial contra o oponente Adama Barrow.
Em meados de janeiro, milhares de apoiantes de Yahya Jammeh manifestaram-se em Banjul para exigir o seu regresso do exílio, defendendo que a situação só piorou desde que Adama Barrow chegou ao poder.
O atual Presidente é alvo de contestação por parte de cidadãos que exigem que abandone o cargo, mas tem, também, apoiantes que demonstram que Adama Barrow poderá ir além do mandato de cinco anos.
Na semana passada, o ministro da Justiça, Abubacarr Tambadou, afirmou que o ex-Presidente Jammeh seria "imediatamente preso" se voltasse para casa e "processado pelos casos mais graves", incluindo "crimes contra a humanidade".
Vítimas pedem justiça
No entanto, as vítimas temem que nunca lhes seja feita justiça, apesar dos apelos urgentes de organizações internacionais. "Pedimos que o Governo aja rapidamente, porque justiça tardia não é justiça. Yahya Jammeh deve ser preso e julgado", disse Maron Baldeh, viúva do tenente Basiru Barrow, assassinado em 1994.
As associações de vítimas pretenderam, também, protestar contra a autorização de manifestação concedida ao partido do ex-presidente, a Aliança Patriótica de Reorientação e Construção (APRC).
Estas associações apresentaram ao Governo uma petição exigindo que esse partido fosse "suspenso" até ao final do trabalho da Comissão da Verdade, que analisa os casos de vítimas e que funciona por um ano.