Sem apoio externo, Bissau e Maputo lutam contra Sida
25 de setembro de 2012
A instabilidade política e problemas detectados na gestão dos apoios monetários são as razões apontadas pelo Fundo Mundial de Combate ao HIV/Sida, à Tuberculose e à Malária para deixar de financiar o tratamento de guineenses com HIV/Sida.
Criada em 2002, a organização internacional recolhe dinheiro para distribuir por 150 países, apoiando-os na luta contra a doença mas também contra a malária e a tuberculose.
No entanto, desde 2011, o Fundo Mundial tem criado entraves para novas ajudas à Guiné-Bissau. É o que explica Pedro Mandinca, presidente da Rede Nacional das Associações de pessoas com HIV/Sida: "[O problema no combate ao HIV/Sida] É falta de financiamento do Fundo Mundial. Porque, em agosto do ano passado, financiaram a última parte da primeira fase. Mas aprovamos a segunda fase e, até agora, não financiaram. Alegaram um problema político, por causa do golpe de Estado [militar de 12 de abril], é um problema para eles. Alegaram também que há irregularidades na gestão de fundos que eles enviaram na primeira fase".
Agora, diz Pedro Mandinca, a maior parte dos pacientes não tem acesso ao tratamento e está a sofrer: "Estão a viver muitas dificuldades, problemas muito dramáticos e muito tristes. Muitos deles perderam de vista [o tratamento] por causa da alimentação", constata o presidente da organização de pessoas com HIV/Sida na Guiné-Bissau.
"Foi o Fundo Mundial, também, que comprou géneros alimentícios para distribuir pelos pacientes e isso agora não acontece", explica Mandinca. Segundo ele, todas as atividades de combate à doença pararam, a exemplo do traslado dos pacientes até ao centro de tratamento. "Os ativistas já não podem realizar estas atividades", diz.
Risco de abandono do tratamento
A falta de fundos, de acordo com Pedro Mandinca, constitui um risco de aumento de novos casos de infecção e de abandono da terapia, por falta de seguimento domiciliário e nutricional.
Só em Bafat, uma das zonas mais afetadas da Guiné-Bissau, mais de 250 doentes já abandonaram a medicação e deixaram de comparecer ao tratamento.
Os esforços do governo para contrariar a decisão do Fundo Mundial não têm sido suficientes, diz o presidente da Rede Nacional das Associações de pessoas com HIV/Sida, explicando que, por isso, estão a procurar alternativas. "Neste momento estamos a procurar meios financeiros junto de outros parceiros. É o caso de um programa da União Europeia, estamos a terminar um plano neste momento, mas só será implementado a partir do próximo ano. Há também um documento de emergência elaborado pelo Secretário Nacional da Luta contra a Sida. Tudo isso já foi aprovado mas não receberam ainda aquele fundo para, no mínimo possível, realizar certas atividades a nível nacional", lamenta Pedro Mandinca.
Moçambique: epidemia séria
Segundo os números da Rede Nacional, a Guiné-Bissau é dos países da região com maior prevalência da doença, havendo neste momento mais de 50 mil pessoas infetadas com HIV/Sida. No primeiro trimestre de 2012, apenas 15 mil doentes tiveram acesso ao tratamento.
A crise financeira já está também a afetar o Conselho de Combate à Sida de Moçambique que, a partir do próximo ano, deixará de receber ajuda dos financiadores, incluindo do Banco Mundial. A instituição passará a ser sustentada na totalidade pelo governo moçambicano e já deixou o alerta: o país tem pela frente uma epidemia séria, de grande dimensão.
Segundo a agência das Nações Unidas para a Sida (ONUSIDA), Moçambique é um dos países mais afetados pela doença na África Subsaariana, com uma taxa de prevalência estimada em 11,5%, num universo de cerca de 23 milhões de habitantes.
Autora: Maria João Pinto
Edição: Renate Krieger/António Rocha