Guiné-Bissau: Arroz nacional pode solucionar a crise
25 de abril de 2024O fim da subvenção à importação do arroz levou ao aumento dos preços deste produto. O Governo guineense disse que não consegue suportar os custos da subvenção, mas o corte e a consequente subida dos preços estão a ser severamente contestados pela sociedade.
Como resolver este problema? A Guiné-Bissau produz, por ano, cerca de 60 mil toneladas de arroz e importa mais de 150 mil toneladas, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.
Um dos motivos para a baixa produção nacional, segundo o presidente da União dos Camponeses da Guiné-Bissau, é o desinvestimento nos campos de cultivo de arroz.
Upa Gomes conta que, nos últimos anos, os agricultores abandonaram as "bolanhas" devido ao comércio da castanha de cajú. Agora, muitas "bolanhas" foram inundadas de água salgada e têm de ser recuperadas.
"Os agricultores precisam do apoio das autoridades para a recuperação das 'bolanhas', e hoje não se pode pensar na agricultura tradicional, precisamos de máquinas", afirma o responsável em declarações à DW África. "Penso que, com esta [crise do arroz], as autoridades vão investir na agricultura, criando condições para que a população deixe de depender do exterior para comer."
À procura de financiamento
O Diretor-Geral do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Guiné-Bissau, Júlio Malam Indjai, diz que o cultivo pode contribuir significativamente para a estabilização da economia nacional. Mas falta dinheiro para investir.
"Nós temos as condições naturais propícias para criar sustentabilidade alimentar, o que falta são os investimentos", lamenta Malam Indjai.
É necessário "investir seriamente no ordenamento hidroagrícola das nossas terras, criando condições de irrigação e escoamento das águas para produzimos arroz suficiente [para consumo interno] e para exportar", acrescenta.
Três colheitas por ano
O responsável considera que a Guiné-Bissau tem condições de fazer três colheitas de arroz anualmente, aproveitando dois grandes rios de água doce, nomeadamente o rio Geba e o rio Corubal.
O Ministério da Agricultura já tem um projeto sobre isso, diz Júlio Malam Indjai, mas falta o dinheiro chegar: "O programa que apresentámos em Dakar, em 2023, contempla um projeto só para a produção do arroz. Queremos ordenar 15 mil hectares de terra e produzir arroz três vezes por ano. O projeto é do conhecimento do Governo. Agora, estamos à espera do financiamento para a sua implementação", informa.
Diversificação da economia
A Guiné-Bissau importa quase todos os seus produtos alimentares. O único produto que o país exporta é a castanha de cajú, cuja campanha não tem dado resultados satisfatórios, nos últimos anos.
Para o Diretor-Geral do Comércio Externo do país, Lassana Fati, a única saída para a crise atual é a aposta na diversificação da produção nacional.
"Devemos apostar na diversificação da nossa produção e na transformação do que produzimos, acho que é a melhor saída para a Guiné-Bissau. Continuar com um único produto como o cajú, que hoje não tem o mesmo valor que tinha, é arriscado e muito mau para a economia nacional", considera Lassana Fati.