Guineenses pintam murais para resgatar memória e unidade
2 de novembro de 2020A imagem da capital da Guiné-Bissau está a mudar com a contribuição de um grupo de jovens, que decidiu resgatar a memória e promover a unidade, com a pintura de murais em espaços degradados que ganharam nova vida.
A experiência começou em 2019 com uma formação em técnica de pintura em arte, depois foi só pôr mãos à obra e aproveitar a oportunidade para mostrarem aquilo que melhor sabem fazer, pintar.
"Não temos nenhum tipo de apoio ou patrocínio, mas como guineenses vale a pena dar a nossa contribuição naquilo que nós somos bons, porque com o tempo as pessoas vão reconhecer. Eu sempre acreditei que o trabalho teria impacto, mas nunca a este nível", afirmou à Lusa Nuno Mars.
O projeto arrancou com 11 pessoas e hoje tem 16 fixas, às quais se juntam todos os voluntários que aparecem para dar umas pinceladas.
Nuno Mars explicou que às vezes é difícil conseguir espaços e materiais para pintar e não se esquece de agradecer o apoio de Miguel de Barros, diretor-executivo da organização não-governamental Tiniguena, e do antigo secretário de Estado da Cultura Spencer Embaló.
"O dinheiro é fundamental para tudo o que fazemos, mas o mais importante é a motivação em tudo aquilo que fazemos", disse.
Homenagem aos heróis nacionais
E nada desmotiva este grupo de jovens que já pintou cinco murais, em homenagem a figuras históricas da Guiné-Bissau, e brevemente vai arrancar com o sexto.
"Todo o mundo está contente com o trabalho que estamos a fazer, não há esquerda, nem direita. Todos os guineenses elogiaram o trabalho que estamos a fazer", afirmou Nuno Mars.
"O objetivo desta pintura é dialogar com a cidade, temos de resgatar a memória. Vais a outras cidades de outros países e vês a importância que a pintura urbana tem, como os Estados Unidos da América e outros países, e quando começou teve uma influência grande", disse.
Além disso, explicou Nuno Mars, o grupo pega num sítio abandonado e transforma-o numa "obra de arte" ao mesmo tempo que permite que as novas gerações conheçam a história do país.
"Só assim é que a Guiné-Bissau se pode transformar num país bonito, num país tranquilo, onde não haja ala A e ala B", disse.
Depois de terem inaugurado o mural de Francisco Mendes, "Tchico Té", primeiro chefe de Governo da Guiné-Bissau, após a independência, os jovens vão agora pintar José Carlos Schawrtz, poeta e músico guineense, que morreu em Cuba, em 1977.
Para concretizarem mais este projeto, os jovens precisam de material e a porta está aberta para todos os que quiserem apoiar Nuno Mars e os seus colegas, nem que seja para ajudar a pintar.
"Para a minha geração não há oportunidades, mas não devemos ficar sentados à espera de oportunidades, devemos criar as nossas oportunidades e só assim é que as coisas correm bem", concluiu.