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Guiné-Bissau: Antigos combatentes "mereciam mais"

Iancuba Dansó
23 de janeiro de 2025

A Guiné-Bissau assinala hoje o Dia dos Combatentes da Liberdade da Pátria. Mais de seis décadas depois, os homens que lutaram pela liberdade dos guineenses continuam a queixar-se e dizem que não têm uma vida "digna".

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Grupo de quatro antigos combatentes da liberdade da pátria
Muitos dos ex-combatentes guineenses recebem apenas a pensão mínima (cerca de 61 euros)Foto: Iancuba Dansó/DW 

O Dia dos Combatentes da Liberdade da Pátria marca 62 anos após o início da luta armada para a independência da Guiné-Bissau. A maioria dos antigos combatentes leva uma vida modesta em Bissau e no interior do país com a pensão mensal paga pelo Estado. Em muitos casos, a quantia não chega para custear as despesas diárias e o sustento das famílias. 

Não há informações oficiais sobre o número de combatentes da liberdade da pátria vivos, mas promessas do Governo não faltam para a melhoria das suas vidas. À DW, Agostinho Roberto Pereira, antigo combatente, lamenta que as promessas tardem em ser concretizadas e afirma que merecia mais.

"Sou um oficial-coronel na reserva, mas infelizmente não estou a gozar dos meus direitos. Fui deputado da primeira legislatura [da Assembleia Nacional Popular, que proclamou o Estado] e penso que eu devia gozar de um certo privilégio, mas infelizmente não acontece. Talvez se a situação política não tivesse mudado, eu não estaria nesta situação", afirma.

25 de abril: Para quando direitos aos ex-combatentes?

Falta dinheiro e assistência médica

Muitos dos combatentes recebem apenas a pensão mínima de 40 mil francos CFA (cerca de 61 euros). Em conversa com a DW, os "veteranos de guerra" dizem que estão doentes, sem assistência médica e que o pouco que ganham não chega para suportar o tratamento.

Braima Malam Cassamá, que combateu no sul do país na luta para a independência, diz que não espera mudanças na vida dos "homens das matas".

"Há um boletim de 1986, que fala dos combatentes da liberdade da pátria. Aí está tudo sobre os direitos dos combatentes e falta agora o cumprimento. Tudo [as promessas] está guardado nas gavetas e não sei quando será cumprido", lamenta.

Na passada segunda-feira, Dias dos Heróis Nacionais, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, mostrou-se preocupado com a situação dos "veteranos da guerra" e disse que é preciso "trabalho de fundo", com seriedade e responsabilidade, para identificar os verdadeiros combatentes da liberdade da pátria.

Prédios construídos com ajuda chinesa

Com o apoio do Governo chinês, foram construídos, há mais de 20 anos, 11 prédios habitacionais com 132 apartamentos e distribuídos aos combatentes da liberdade da pátria, mas, por insuficiência, a maioria ficou de fora e está sem casa. 

Um dos prédios habitacionais dos combatentes da liberdade da pátria, no bairro de Antula, em Bissau
Alguns antigos combatentes vivem no bairro de Antula, em Bissau, em prédios construídos com o apoio do Governo chinêsFoto: Iancuba Dansó/DW 

Apesar das vicissitudes no dia a dia, Arafam Mané, um dos antigos combatentes, diz que acredita num futuro melhor para a Guiné-Bissau.

"Tenho a espera de que um dia qualquer, a Guiné-Bissau será capaz de desenvolver, porque há um vento para a mudança de mentalidade e da geração. E a nova geração vai estar apta para atingir os objetivos da luta de libertação nacional", diz.

No dia 23 de janeiro de 1963, o ataque ao aquartelamento de Tite, no sul da Guiné-Bissau, marcou o início da luta armada para a independência do país.

Há muito que os combatentes da liberdade da pátria reclamam uma pensão "condigna" e vida melhor, mas passados 51 anos da independência, as queixas ainda continuam.