Novo ataque em Moçambique deixa pelo menos 6 mortos
7 de junho de 2018Os fatos aconteceram na noite de quarta-feira (06.06), no distrito de Quissanga, e com estas vítimas o número de assassinatos cometidos em doze dias chega aos 30.
O administrador do distrito, Bartolomeu Miubo, explicou que o ataque aconteceu por volta das 21h (horário local) na aldeia de Namaluco.
As vítimas foram decapitadas com espadas ou então baleadas; os terroristas também queimaram cerca de cem casas.
Em Namaluco, o palco é semelhante ao de ataques anteriores: a aldeia com cerca de 1.500 a 2.000 habitantes, não tem eletricidade nem infraestruturas, é acessível através de uma estrada em terra e as casas são de construção artesanal.
As vilas sede de distrito mais próximas, Quissanga e Macomia, onde há energia e serviços, estão a algumas dezenas de quilómetros. Os residentes dizem ter ouvido vozes dos atacantes em suali, língua falada na Tanzânia, e noutras que desconheciam.Outras fontes locais relatam que o fogo da última noite (07.06) era visível da ilha do Ibo (Quissanga é um distrito costeiro), para a qual se estarão a deslocar inúmeros habitantes da região, que tentam encontrar um local seguro.
Nova vaga de ataques
Esta nova vaga de violência começou com incursões nas aldeias de 25 de junho e Monjane, no distrito de Palma, a 27 de maio, provocando dez mortes por decapitação. Um outro habitante terá sido assassinado em Muti, na quinta-feira, dia 31.
Entretanto, durante operações das autoridades com apoio da população no distrito de Palma, 11 suspeitos de pertencer aos grupos armados foram mortos: nove na sexta-feira, dia 01 de junho, e outros dois no domingo, dia 03, disseram fontes locais à Lusa. O porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), Inácio Dina, confirmou a operação de dia 1 e referiu que essas mortes aconteceram depois de os suspeitos resistirem a uma ordem de rendição.
Entre a noite de dia 4 e a madrugada de dia 5, os agressores fizeram sete mortos ao atacar a aldeia de Naunde, distrito de Macomia, que ficou quase reduzida a cinzas com cerca de 160 casas destruídas.
A PRM referiu na terça-feira (05.06), em conferência de imprensa, que Naunde terá sido alvo dos elementos restantes do grupo que fez dez decapitações a 27 de maio.
Desde outubro de 2017, o norte de Moçambique vem sofrendo ataques de grupos armados não devidamente identificados. Na região estão localizadas grandes jazidas de gás natural e petróleo com concessões a multinacionais como a italiana ENI e a americana Anadarko.Detenções em Nampula
A Polícia da República de Moçambique (PRM), na província de Nampula, já deteve cerca de 40 cidadãos, nacionais e estrangeiros, que supostamente seguiam viagem para o distrito de Palma onde alegadamente iam juntar-se a outros elementos que têm semeado terror e luto em Cabo Delgado.O comandante Provincial da PRM em Nampula, Manuel Zandamela, disse que as pessoas estavam a ser recrutadas com destino a Cabo Delgado com falsas promessas de emprego.
"Alguns dos nossos irmãos, filhos e maridos foram enganados e saíram daqui para comercializar produtos que também aqui temos e não estamos a conseguir vender. Eles iam apara Cabo Delgado. Então, viemos aqui para ver o que na verdade acontece", explicou. Manuel Zandamela esclareceu as populações de Chalaua, em Moma, que ‘‘quero aqui clarificar que eles não cometeram nenhum crime, mas apenas estavam a ser enganados e aliciados para negócios em Cabo Delgado", disse.Os cidadãos em causa recusam completamente as declarações do Comandante da Polícia e alegam que são comerciantes que queriam somente comprar artigos que em seguida seriam revendidos.
Namarinho Amaral é um dos jovens integrantes do grupo dos 40 e disse à DW África que "não íamos para Mocímboa da Praia, mas sim para Namapa [distrito da província de Nampula] comprar gergelim. Saímos daqui de Chalaua e fomos detidos em Nametil e o agente da Policia de Transito mandou-nos voltar para irmos obter guia de marcha que nos identificava a caminho de Namapa para fazer compras", disse.
Jovens sem empregoO analista e advogado, Arindo Murririua, entende que os ataques na província de Cabo Delgado surgiram depois das autoridades moçambicanas terem proibido a exploração ilegal nas minas em Namanhumbiri facto que deixou sem emprego vários jovens. O analista teme que esses ataques se alarguem para outras regiões e diz que chegou altura para o Governo identificar a cabecilha desses grupos de atacantes e colocar um fim à situação.
‘"Há dúvidas sobre esses jovens que foram apanhados em Moma... se a Polícia diz isso, ela é uma instituição credível, mas deve-se fazer uma investigação séria para apurar que realmente eles iam engrossar algum grupo ou não. Uma guerrilha não acaba no mato, mas sim na mesa com champanhe e é preciso envidar esforços para se conhecer realmente quais são os cabecilhas daquele grupo e haver negociação para se acabar com o mesmo’’, disse.