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Greve paralisa caminho de ferro de Benguela em Angola

21 de dezembro de 2011

Promessa de aumento salarial de 150% aos trabalhadores está por cumprir e desencadeia greve sem data para terminar.

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Comboio de Benguela numa linha deteriorada (fotografia tirada em 2004)
Comboio de Benguela numa linha deteriorada (fotografia tirada em 2004)Foto: picture-alliance / dpa

Quatro meses depois da inauguração pelo presidente angolano, José Eduardo dos Santos, do reabilitado caminho de ferro de Benguela (província no oeste de Angola) está parado devido a uma greve decretada esta terça-feira (20.12) pelos trabalhadores.

Esta forma de protesto decretada pela assembleia geral de trabalhadores do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) surge um mês depois de negociações frustradas com a direção da empresa.

“Eu quero o meu dinheiro!”

Os trabalhadores que auferem de um ordenado mínimo na ordem dos 13 mil Kwanzas, o equivalente a 130 dólares norte-americanos, pretendem um aumento salarial de 200%, porque consideram ser a cifra ideal para equilibrar a perda do poder de compra.

Uma trabalhadora ouvida pela Deutsche Welle explica que “estamos aqui em greve porque já houve uma promessa de que os trabalhadores a partir do dia 1 do mês de novembro fossem aumentados 150%, o que não aconteceu no final do mês. Estão sempre a mentir-nos!”. Assim sendo, “vamos unir forças porque nós queremos o dinheiro”, garante.

Outro trabalhador grevista mostrou-se revoltado com a atuação da empresa: “Eu trabalhei muito, eu quero o meu dinheiro hoje! Eu daqui não vou sair sem me pagarem o meu dinheiro! (…) Eu não vou sair daqui sem o meu dinheiro porque eu estou na rua!”, desabafa. Os trabalhadores dizem que a duração da greve é indefinida.

Garantias do governo foram dadas para acalmar os ânimos

O primeiro secretário da comissão sindical do CFB, Bernardo Henriques, afirmou que dos vários encontros feitos entre os trabalhadores e a direção da empresa, houve garantias de uma delegação mandatada pelo Ministro dos Transportes angolano, de que as reivindicações dos trabalhadores seriam atendidas.

Bernardo Henriques esclarece que “houve garantia, até nem é promessa, é garantia, assinada em ata pela delegação vinda de Luanda, mandatada por sua excelência o senhor Ministro dos Transportes. E assinamos a ata final do acordo, em que devíamos ser aumentados 150% a partir de 1 de novembro. Não estão a cumprir com as garantias dadas, por isso é que hoje paramos”. Para o sindicalista as garantias foram dadas apenas para abrandar os ânimos dos grevistas.

Passageiros estão sem meios para se deslocarem

José Lupassa, um passageiro que utiliza a transportadora ferroviária, prevê dias difíceis com a paralisação dos caminhos de ferro de Benguela: “Isso vem trazer certas consequências e graves para a população local, na medida em que nós temo-nos deslocado todos os dias de Benguela para o Lobito [zona portuária que é o ponto final do caminho de ferro]. Com a paralisação dos caminhos de ferro de Benguela não podemos transportar as nossas mercadorias, não podemos sair de Benguela para o Huambo [no centro do país] ou de Huambo para uma outra província de comboio”.

Contactado por telefone, o presidente do Conselho de Administração do Caminho de Ferro de Benguela, Carlos Gomes, não se mostrou disponível em tempo útil à Deutsche Welle.

O caminho de ferro de Benguela foi inaugurado em agosto, após 27 anos de interregno devido a conflito armado, após ter sido reabilitado através duma linha de crédito da República Popular da China.

José Eduardo dos Santos, presidente de Angola, inaugurou em agosto de 2011 a reabilitada linha férrea de Benguela
José Eduardo dos Santos, presidente de Angola, inaugurou em agosto de 2011 a reabilitada linha férrea de BenguelaFoto: picture alliance/dpa

Autor: Nelson Sul d'Angola (Benguela)
Edição: Glória Sousa / Renate Krieger