Greve paralisa caminho de ferro de Benguela em Angola
21 de dezembro de 2011
Quatro meses depois da inauguração pelo presidente angolano, José Eduardo dos Santos, do reabilitado caminho de ferro de Benguela (província no oeste de Angola) está parado devido a uma greve decretada esta terça-feira (20.12) pelos trabalhadores.
Esta forma de protesto decretada pela assembleia geral de trabalhadores do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) surge um mês depois de negociações frustradas com a direção da empresa.
“Eu quero o meu dinheiro!”
Os trabalhadores que auferem de um ordenado mínimo na ordem dos 13 mil Kwanzas, o equivalente a 130 dólares norte-americanos, pretendem um aumento salarial de 200%, porque consideram ser a cifra ideal para equilibrar a perda do poder de compra.
Uma trabalhadora ouvida pela Deutsche Welle explica que “estamos aqui em greve porque já houve uma promessa de que os trabalhadores a partir do dia 1 do mês de novembro fossem aumentados 150%, o que não aconteceu no final do mês. Estão sempre a mentir-nos!”. Assim sendo, “vamos unir forças porque nós queremos o dinheiro”, garante.
Outro trabalhador grevista mostrou-se revoltado com a atuação da empresa: “Eu trabalhei muito, eu quero o meu dinheiro hoje! Eu daqui não vou sair sem me pagarem o meu dinheiro! (…) Eu não vou sair daqui sem o meu dinheiro porque eu estou na rua!”, desabafa. Os trabalhadores dizem que a duração da greve é indefinida.
Garantias do governo foram dadas para acalmar os ânimos
O primeiro secretário da comissão sindical do CFB, Bernardo Henriques, afirmou que dos vários encontros feitos entre os trabalhadores e a direção da empresa, houve garantias de uma delegação mandatada pelo Ministro dos Transportes angolano, de que as reivindicações dos trabalhadores seriam atendidas.
Bernardo Henriques esclarece que “houve garantia, até nem é promessa, é garantia, assinada em ata pela delegação vinda de Luanda, mandatada por sua excelência o senhor Ministro dos Transportes. E assinamos a ata final do acordo, em que devíamos ser aumentados 150% a partir de 1 de novembro. Não estão a cumprir com as garantias dadas, por isso é que hoje paramos”. Para o sindicalista as garantias foram dadas apenas para abrandar os ânimos dos grevistas.
Passageiros estão sem meios para se deslocarem
José Lupassa, um passageiro que utiliza a transportadora ferroviária, prevê dias difíceis com a paralisação dos caminhos de ferro de Benguela: “Isso vem trazer certas consequências e graves para a população local, na medida em que nós temo-nos deslocado todos os dias de Benguela para o Lobito [zona portuária que é o ponto final do caminho de ferro]. Com a paralisação dos caminhos de ferro de Benguela não podemos transportar as nossas mercadorias, não podemos sair de Benguela para o Huambo [no centro do país] ou de Huambo para uma outra província de comboio”.
Contactado por telefone, o presidente do Conselho de Administração do Caminho de Ferro de Benguela, Carlos Gomes, não se mostrou disponível em tempo útil à Deutsche Welle.
O caminho de ferro de Benguela foi inaugurado em agosto, após 27 anos de interregno devido a conflito armado, após ter sido reabilitado através duma linha de crédito da República Popular da China.
Autor: Nelson Sul d'Angola (Benguela)
Edição: Glória Sousa / Renate Krieger