Governo do Zimbabué acusa opositores de prepararem golpe
29 de setembro de 2020"A aliança do Movimento para a Mudança Democrática (MDC) tem defendido consistentemente que a nossa luta pela democracia e por um Zimbabué melhor está a ser travada através de meios constitucionais e não violentos", anunciou esta terça-feira (29.09) o partido liderado por Nelson Chamisa, em comunicado.
"Não estamos a treinar quaisquer forças em lado nenhum", insistiu.
O partido de Nelson Chamisa respondeu assim às declarações do ministro do Interior, Owen Ncube, que disse, na segunda-feira, que houve tentativas da oposição e das "potências estrangeiras" de "conduzir o Zimbabué ao caos".
"Alguns elementos dissidentes estão a conspirar com alguns governos ocidentais hostis para contrabandear armas e estabelecer os chamados Comités de Resistência Democrática, que são milícias violentas", afirmou o ministro, numa conferência de imprensa.
Owen Ncube não adiantou quaisquer provas de fundamentação das suas declarações, mas apelou ao MDC para "se reformular num partido político de oposição normal, que aceite os resultados dos processos democráticos e tenha a paciência de esperar por outra oportunidade de mostrar aos eleitores que merece a sua confiança".
O membro do Executivo zimbabuano referia-se, assim, aos apelos da oposição para a realização de protestos pacíficos contra os resultados das eleições de julho de 2018, ganhas pelo atual Presidente, Emmerson Mnangagwa, mas que a oposição considera fraudulentas.
Outras acusações no passado
Esta não é a primeira vez que o Governo do Zimbabué utiliza este tipo de retórica. O Presidente prometeu no início de agosto "purgar" a oposição, que descreveu como "maçãs podres".
"Aqueles que promovem o ódio e a desarmonia nunca vencerão, as maçãs podres que tentaram dividir o nosso povo e enfraquecer o nosso sistema serão eliminadas", disse Mnangagwa, numa mensagem televisiva à nação a partir do Palácio Presidencial em 04 de agosto.
A oposição vê na nova mensagem do Ministério do Interior um possível pretexto para acabar com a dissidência política.
"Cheira-me a repressão iminente e esta declaração pretende ser uma justificação", disse a secretária de relações internacionais da formação partidária, Gladys Hlatshwayo, na sua conta da plataforma Twitter.
A agitação geral que se vive em todo o país tem a ver com uma crise económica e humanitária que o Zimbabué regista há alguns anos, mas que foi ainda mais exacerbada pelas medidas impostas para tentar conter a pandemia de Covid-19.
A inflação atual no país é superior a 700%, enquanto cerca de seis milhões dos 16 milhões de pessoas que vivem no Estado africano estão a necessitar de ajuda humanitária.