Cabo Verde espera consolidar recuperação económica em 2024
3 de outubro de 2023"A nossa expectativa é que seja um ano de consolidação da recuperação económica, um ano de aceleração do processo de desenvolvimento e um ano que coloque fim ao processo de perda de capacidade de compra dos cabo-verdianos", disse o secretário-geral do Movimento para a Democracia (MpD), Luís Carlos Silva, após audiência com o Presidente da República.
O chefe de Estado de Cabo Verde, José Maria Neves, chamou os partidos políticos com assento parlamentar para abordar a situação política nacional, e o porta-voz do MpD lembrou que o contexto externo é ainda de dificuldades, mas notou que as previsões serão melhores do que as dos últimos três anos.
Para o próximo ano, prevê o início do processo de reposição da capacidade do poder de compra dos cabo-verdianos.
Luís Carlos Silva reconheceu que o país ainda enfrenta o problema dos transportes, doméstico e internacional, considerando que é um dos fatores que têm constrangido o processo de desenvolvimento de Cabo Verde.
"E aqui nós somos diretos e pragmáticos. O nível de prestação de serviço no transporte ainda não satisfaz", admitiu, referindo que há um "processo paulatino e progressivo" de melhoria da prestação de serviço.
Quanto à segurança, o mesmo responsável partidário disse que o Governo tem feito uma intervenção focada para reduzir os níveis de insegurança, mas entendeu que é preciso um investimento ainda maior, já que consta no Orçamento de Estado de 2024.
"Há um reforço dos discursos e da disponibilidade para o setor da segurança. Isso na perspetiva da repressão. Mas há também a perspetiva de conseguirmos construir um contexto que possa gerar menos insegurança", afirmou o secretário-geral do MpD.
Oposição critica "insensibilidade" do Governo
Antes, os dois partidos da oposição parlamentar em Cabo Verde criticaram , após serem ouvidos pelo Presidente da República, a "insensibilidade", a "falta de coração" e o "autismo" do Governo perante os problemas dos cidadãos.
O presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Rui Semedo, apontou as dificuldades por que passam os cabo-verdianos, com o aumento do custo de vida e a diminuição do poder de compra.
"Esta situação é agravada por uma certa insensibilidade do Governo, que continua a funcionar como se nada fosse. O Governo continua grande, o Governo continua a fazer despesas, grandes despesas com deslocações demoradas, custosas", criticou.
Outra área que continua a preocupar o maior partido da oposição cabo-verdiana, disse, é a dos transportes entre as ilhas.
"Um problema que condiciona inclusive o nosso processo de desenvolvimento. Limita a circulação das pessoas, limita as trocas comerciais, prejudica as famílias e prejudica os operadores, designadamente", afirmou Rui Semedo, pedindo respostas ao Governo.
Segundo o líder partidário, outro "problema grave" do país é a insegurança urbana, sobretudo na cidade da Praia, mas também o desemprego, a diminuição do poder de compra e a falta de rendimento das pessoas, acusando o Governo de parecer "não fazer nada".
Rui Semedo criticou os aumentos de 17% e 18% nas remunerações do governador e administradores do banco central, respetivamente, dizendo que o executivo liderado por Ulisses Correia e Silva já não tem moral para exigir sacrifícios às pessoas, sobretudo as que ganham menos.
"O Governo abriu uma caixa de Pandora e, eventualmente, abriu a possibilidade de maior reivindicação dos cidadãos para repor o seu poder de compra", declarou, apontando falta de diálogo, degradação da qualidade da democracia e da liberdade dos cidadãos como outras questões que marcam a situação política do país.
"É o medo que se instala no seio dos cidadãos que perdem a coragem de reivindicar, de exigir, de colocar os seus problemas", salientou.
Para o líder do maior partido da oposição cabo-verdiana, trata-se de um Governo "que não ouve as críticas, não ouve as propostas, não ouve as indicações. Quer dizer, um Governo autista que segue cegamente o seu caminho".
O presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), João Santos Luís, também da oposição, ouvido via plataformas digitais, a partir da sede do partido em São Vicente, disse, igualmente, que a situação do país "não é boa" e criticou o Governo "sem coração", pois não tem conseguido encontrar um equilíbrio social no país.
"Do nosso ponto de vista, têm assobiado para o lado como se nada estivesse a acontecer", analisou o político, citado pela Inforpress, discordando também dos aumentos salariais no Banco de Cabo Verde (BCV) e referindo que o Governo "fecha os olhos e deixa os ossos e as migalhas aos mais vulneráveis".
A educação, os transportes, a saúde e a justiça são outras áreas sobre as quais o presidente da UCID manifestou preocupações ao Presidente da República, nas vésperas do início de mais um ano parlamentar no arquipélago.