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Governo entrega restos mortais de dirigentes da UNITA

Borralho Ndomba
15 de novembro de 2021

O Governo angolano entregou hoje os restos mortais de dois antigos dirigentes da UNITA, mortos na sequência dos conflitos pós-eleitorais de 1992. Ministro da Justiça admitiu que morreram por causa de um "erro político".

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Foto: Borralho Ndomba/DW

O Governo angolano procedeu esta segunda-feira (15.11) à entrega dos restos mortais de Adolosi Paulo Alicerces Mango, então secretário-geral da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e de Salupeto Pena, representante do partido na Comissão Conjunta Político-Militar, mortos há 29 anos na sequência dos conflitos pós-eleitorais de 1992.

O ato faz parte do Plano de Ação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos e decorreu no Laboratório Central de Criminalística em Luanda, seis meses após a cerimónia de homenagem às vítimas do 27 de Maio e dos angolanos que morreram devido aos conflitos políticos entre 1975 e 4 de abril de 2002.

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos e coordenador da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), Francisco Queiroz, disse que os efeitos deste ato vão para além das famílias dos falecidos, pois demonstra a unidade dos angolanos.

Vítimas de um "erro político"

Salupeto Pena e Alicerce Mango foram vítimas de um "erro político" que redundou em violência e que causou a morte de milhares de angolanos, reconheceu Francisco Queiroz, para quem este é o momento de perdoar e de reparar erros do passado.

"O momento também é de mudança de comportamento e de atitudes. Chega de erros políticos trágicos. Chega de atos de irresponsabilidade política que podem redundarem em violência e provocar sofrimento ao nosso povo. Chega de fazer política com ódios movidos por egoísmo monocromáticos", apelou o ministro da Justiça.

Angola | Überführung sterbliche Überreste von Adolosi Mango und Salupeto Pena
Francisco Queiroz, ministro da Justiça e coordenador da CIVICOPFoto: Borralho Ndomba/DW

O coordenador da CIVICOP pediu também que as vítimas dos conflitos políticos sejam lembrados para evitar novos erro: "Que essas vidas e o grande sofrimento causado às famílias e ao povo angolano sejam a mola precursora da paz, da reconciliação e do perdão.

"O momento é de aprender com os erros. A nossa memória deve registar os erros políticos trágicos. Esses erros não devem ser esquecidos porque constituirão um alerta permanente para impedir que se repitam", sublinhou o governante.

Samakuva pede que se "olhe para a frente"

Em declarações à imprensa, o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, disse que os angolanos devem ultrapassar os interesses partidários e construir em conjunto a nação angolana. "Costumo dizer que vítimas, fomos todos. Culpados, fomos todos. Irresponsáveis, fomos todos. Portanto, não vale apenas apontar dedos a este ou aquele. Agora é o momento de olharmos para frente com coragem e com unidade", defendeu.

A família e a UNITA ainda não traçaram a agenda para os funerais dos seus entes queridos. O deputado Alicerces Mango, filho mais velho de Adolosi Paulo Mango Alicerces, disse que a família esperava pela oportunidade de realizar um funeral digno.

Angola | Überführung sterbliche Überreste von Adolosi Paulo Alicerces Mango
Familiares de dirigentes da UNITA mortos nos conflitos pós-eleitorais de 1992Foto: Borralho Ndomba/DW

"Sabemos que em África só se confirma a morte após os mortos serem sepultados. Também há sentimentos de alegria porque finalmente, depois de 29 anos, houve esta responsabilidade, houve este cuidado de acautelar este sentimento da família para nos entregarem os restos mortais do nosso pai, do nosso tio, do nosso avô", afirmou.

O ministro Francisco Queiroz anunciou também que nos próximos tempos a CIVICOP vai entregar as ossadas de Jeremias Chitunda e Eliseu Chimbili, também antigos dirigentes do "galo negro", assim como das vítimas do fatídico caso do 27 de Maio de 1977.