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G8 deixa de cumprir promessas à África, diz imprensa alemã

27 de maio de 2011

A imprensa alemã comentou nesta semana diversos temas relacionados com a África. Por exemplo, as promessas não cumpridas dos países mais industrializados mais a Rússia; ou o súbito interesse da Índia pelo continente

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O G8 afirma regularmente nas suas cimeiras que quer ajudar países em desenvolvimento. Desta vez, especialmente as novas democracias no Norte de ÁfricaFoto: AP

O Frankfurter Allgemeine Zeitung, um jornal conservador, recorda que não foram cumpridas as promessas feitas em cimeiras anteriores pelo grupo países mais industralizados, mais a Rússia, conhecido como G8. As promessas visavam ajudar os países em vias de desenvolvimento. Desta vez, na cimeira de Deauville, em França, eles prometeram ajudar os países do norte de África, onde houve a chamada “primavera árabe” – os movimentos democráticos - sobretudo no Egipto e na Tunísia.

Na cimeira de 2005, em Gleneagles, na Escócia, foi decidido que a ajuda ao desenvolvimento dos países em desenvolvimento aumentaria em 50 mil milhões de dólares até 2010. Na realidade só aumentou em 30 mil milhões, afirma a organização humanitária Oxfam, que fala de “escândalo”.

Hühnerfarm, Vrtoce, Bosnien und Herzegowina
Os aviários europeus produzem milhões de frangos que depois vendem muito baratos para ÁfricaFoto: Dejan Sajinovic

Europa exporta carne de aves para a África

O jornal liberal de Munique Süddeutsche Zeitung refere-se a um caso concreto: a exportação de carne de aves da Europa para os países africanos. Na Alemanha, vendem-se mal certas partes das galinhas ou frangos como o pescoço, fígado, coração, moela etc. Os clientes só querem peito, pernas, asas. O resto é então vendido para a África – muito mais barato que a produção local. Os criadores africanos de aves não conseguem concorrer com esses preços.

Diversas organizações humanitárias criticam tal comércio, e não apenas por ele ser tão prejuducial para a economia nacional. A carne congelada importada chega muitas vezes já estragada à mesa dos consumidores porque é interrompida a cadeia do frio. No porto de Acra, no Gana, os restos de frango congelados, importados da Europa, são vendidos a 70 cêntimos o quilo, menos do que o preço de venda na Europa.

Isto dá cabo da produção nacional, relata o Süddeutsche Zeitung. Os produtores ganeses já só vendem menos de 1% da carne de aves produzida no próprio país – antes, vendiam 100%. O mesmo se passa no Benin que é actualmente o país africano que mais restos de carne de aves importa da Europa.

Os produtores alemães afirmam que não são responsáveis pelas consequências negativas das suas exportações para os paísese em desenvolvimento porque a regra básica da economia de mercado é a livre concorrência.

Indien Premierminister Singh
O primeiro-ministro indiano Manmohan Singh visitou a África, pediu apoio e prometeu créditosFoto: UNI

A Índia descobre a África

O Neue Zürcher Zeitung, um jornal suiço de língua alemã que se publica em Zurique, comenta o facto da Índia estar a descobrir a África. O primeiro-ministro indiano Manmohan Singh visitou diversos países africanos e participou depois em Addis Abeba numa cimeira com 15 chefes de estado e de governo africanos.

A Índia deseja obter o apoio dos africanos para a sua pretensão de se tornar membro permanente do Conselho de segurança da ONU. E para isso está disposta a abrir os cordões à bolsa: nos próximos três anos vai dar a África créditos no montante de 5 mil milhões de dólares.

Em contrapartida, a Índia, que consome cada vez mais energia, está muito interessada nas matérias primas africanas. Já importa da África 70% do petróleo e do gás natural que consome; esses valores deverão duplicar até 2030, calcula a Agência Internacional de Energia. Será uma forma de diminuir a dependência do Médio Oriente. Nigéria e Angola são por isso interlocutores priveligiados para Nova Délhi. Além disso a Índia está muito interessada no urânio africano, para alimentar o seu ambicioso programa nuclear.

Electricidade do deserto

Finalmente o jornal liberal Frankfurter Rundschau refere-se à ideia de construir no deserto do Saara gigantescos campos de painéis solares para exportar electricidade para a Europa.

Mas este ambicioso plano é difícil de concretizar por razões técnicas e políticas. Por enquanto está tudo ainda na fase de projecto. Os responsáveis recordam que a sua concretização só será possível quando a situação política no norte de África se tiver estabilizado; mas outros argumentam que tais investimentos poderiam exactamente contribuir para essa estabilização.

Abdelaziz Bennouna, antigo secretário geral do Centro de pesquisa técnica, no Marrocos, afirma: “Espero que a Europa aceite parceiros em pé de igualdade; e que apoie as democracias em vez de apoiar os ditadores”.

Wüste Kamel Flash-Galerie
Os técnicos calculam que no deserto do Saara se pode produzir 100 vezes mais electricidade do que aquela que é consumida actualmente em todo o mundo.Foto: Elahe Helbig

Autor: Carlos Martins
Revisão: Renate Krieger