G7 termina com declaração consensual sobre comércio
9 de junho de 2018Donald Trump foi o último a chegar e o primeiro a sair do encontro que reuniu, sexta-feira (08.06) e sábado (09.06), as sete nações mais industrializadas do mundo (G7) - Canadá, França, Itália, Japão, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, e a União Europeia, em Charlevoix, na província canadiana do Québeque, no Canadá.
Ao longo dos dois dias, o objetivo era claro. Tentar colocar de lado as diferenças que dividem os EUA - que se consideram "injustiçados" no comércio internacional - e os restantes membros do G7 - que defendem ideias contrárias às de Donald Trump também no que toca às alterações climáticas e ao acordo nuclear com o Irão -, e redigir um comunicado conjunto final. Antes da cimeira, o presidente francês Emanuelle Macron disse mesmo que, se necessário, os seis países do G7 estariam dispostos a assinar uma declaração final sem os EUA.
Antes de sair, Trump propõe zona livre de comércio
Donald Trump abandonou antecipadamente a cimeira do G7, faltando, entre outras, à discussão sobre as alterações climáticas, por causa da sua viagem para Singapura - onde se vai reunir com o líder da Coreia do Norte Kim Jong Un, na terça-feira (12.06). Uma atitude, na opinião de muitos, que revela desrespeito pelo G7. No entanto, e antes de deixar o Canadá, o presidente propôs a criação de uma zona livre de comércio dentro do grupo do G7. Aos jornalistas, Donald Trump afirmou que não sabe "se vai funcionar", mas que apresentou a proposta aos restantes membros. "Tivemos debates extremamente produtivos sobre o que é necessário para ter trocas comerciais justas", referiu, em conferência de imprensa, na qual começou por ameaçar parar as exportações dos Estados Unidos, especialmente no setor agrícola, para países que mantêm a aplicação de direitos aduaneiros a produtos norte-americanos, como retaliação pelas medidas comerciais unilaterais dos EUA.
Apesar das diferenças óbvias, Trump afirmou aos jornalistas que esta foi uma cimeira "tremendamente bem-sucedida" e enalteceu a qualidade das relações com alguns dos dirigentes que integram o G7, particularmente, com o primeiro ministro canadiano, Justin Trudeau, o Presidente de França, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel.
Nos últimos meses, as tensões entre os EUA e os restantes seis parceiros têm vindo a crescer, em grande parte por causa da decisão do presidente norte-americano de impor taxas aduaneiras às importações dos Estados Unidos de aço e alumínio. Na sexta-feira (08.06), na primeira sessão deste encontro, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Cleaude Juncker, e os líderes do G7 tentaram convencer Trump dos benefícios das relações comerciais através da apresentação de alguns números. No entanto, e por sua vez, Trump respondeu com os seus próprios números e insistiu que os EUA estão em desvantagem no comércio internacional.
Há acordo, mas não em todos os campos
A grande dúvida desta cimeira era se as sete nações conseguiriam produzir um documento final assinado por todos. Ao fim da tarde deste sábado (09.06), coube à chanceler alemã Angela Merkel anunciar que os sete membros do G7 adotarão uma posição comum sobre o comércio, apesar de persistirem divergências que a cimeira no Canadá não ultrapassou. "Parto do princípio que teremos um texto comum sobre o comércio", referiu Merkel, acrescentando, no entanto, que não será o suficiente para "resolver os problemas detalhadamente".
Para o presidente francês, esta declaração conjunta é apenas "um primeiro passo". Mas acrescenta que "o trabalho contnuará nas próximas semanas e meses".
Angela Merkel anunciou ainda que, no que toca a questões ambientais e climáticas, não houve acordo. Os Estados Unidos ficarão de fora das conclusões sobre este tema.
Regresso da Rússia
No final do primeiro dia, o presidente norte-americano pareceu ter conseguido desviar as atenções do que realmente se pretendia discutir neste encontro do G7 quando defendeu o regresso da Rússia ao encontro anual das sete nações mais industrializadas do mundo. Declarações que, sem surpresa, voltaram a enfurecer alguns dos parceiros. E que Donald Trump voltou a reforçar este sábado (09.06). "Poderia ser positivo o regresso da Rússia ao G8”, voltou a frisar. Para já, o único a comentar favoravelmente esta ideia do presidente norte-americano foi o novo primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, que escreveu no Twitter: "Concordo com o Presidente Donald Trump. A Rússia devia voltar ao G8, no interesse de todos".
Por seu lado, a Rússia nega o desejo de regressar. Numa entrevista na televisão nacional do seu país, o ministro dos Negócios Estrangeiros russos, Sergei Lavrov, afirmou que a Rússia "não pediu para se juntar ao grupo do G7". Acrescentou ainda que "está feliz em trabalhar com o G-20", "um formato”, diz, no qual é "possível encontrar consensos".
A Rússia foi afastada destas reuniões no seguimento da anexação da Crimeia, em 2014, sendo que a investigação sobre a existência de ligações entre a equipa de Donald Trump e as autoridades russas que possam ter influenciados as eleições de 2016 continua em curso nos EUA.
EUA "desafiam” ordem mundial
Donald Tusk que, como presidente do Conselho Europeu, representa a União Europeia nesta cúpula, afirmou que o governo Trump e o resto do grupo têm diferenças claras sobre o comércio, as alterações climáticas e o acordo nuclear com o Irão. Criticou ainda o presidente dos EUA por entender que ele está a "desafiar" a ordem mundial. "É isso que me inquieta mais, é ver que a ordem mundial, baseada em regras comuns, é desafiada não pelos suspeitos do costume, mas, de forma surpreendente, pelo seu principal arquiteto e garante, os Estados Unidos", afirmou. Tusk mostrou-se ainda contra o desejo de Trump de fazer regressar a Rússia ao G7.
A par da política internacional e comércio, estiveram em cima da mesa do G7 outros temas, tais como, as alterações climáticas, a igualdade de género e a desnuclearização da Coreia do Norte que o grupo apoia completamente.