Forças Armadas guineenses dizem que Angola acabou com missão militar
9 de abril de 2012A capital guineense, Bissau, foi esta segunda-feira (09.04) palco de uma nova conferência de imprensa a propósito da polémica que tem envolvido a Missang, a missão militar angolana no país. Hoje, dia em que chega a Bissau o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chicoti, foi a vez do porta-voz das Forças Armadas da Guiné-Bissau, tenente-coronel Dabana na Walna, esclarecer a posição dos militares.
Na semana passada, no dia 03.04, o ministro da Defesa de Angola, Cândido Van-Dúnem, deslocou-se à capital guineense para entregar ao Presidente interino, Raimundo Pereira, uma mensagem de José Eduardo dos Santos, que abordava “aspetos relacionados com a cooperação bilateral”, nomeadamente com a Missang.
A visita surgiu depois das declarações do chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau (CEMGFA), António Indjai, que questionou a presença da missão militar angolana, que acusou de violar o acordo e de atuar fora do seu mandato. Hoje, Dabana na Walna assegurou que António Indjai “nunca exigiu o fim da Missang”.
Forças Armadas negam responsabilidade
Segundo o porta-voz das Forças Armadas, na reunião realizada no dia 03.04, “o ministro da Defesa deu a conhecer aos presentes a decisão do Presidente angolano de pôr fim à Missang”. Dabana na Walna considera que “não é postura normal um militar dar conferências de imprensa em democracia” e que “devia confiar ao Governo a tarefa da defesa do prestígio das Forças Armadas e do decoro dos militares.”
O responsável acusa o governo guineense de tentar imputar às Forças Armadas a responsabilidade pelo fim da missão militar angolana e alega que Bissau de estar “publicamente a imputar responsabilidades às Forças Armadas pelo fim da Missang em Bissau.”
Rumores sobre golpe de Estado
O também chefe de gabinete do general Indjai afirma que o CEMGFA tomou uma posição sobre a missão militar no dia 20 de março. Nesse dia recebeu em audiência o embaixador de Angola em Bissau, general Feliciano dos Santos, que lhe perguntou “se estava a forjar um golpe de Estado”, uma vez que tinha informações de Angola nesse sentido.
De acordo com o porta-voz, António Indjai pediu, nesse mesmo dia, uma reunião de urgência com o Presidente da República e com o Governo, a quem deu a conhecer o teor da conversa. “Todos ficaram chocados”, afirma Dabana na Walna.
Militares guineenses reclamam meios bélicos
O porta-voz das Forças Armadas diz que António Indjai pediu ao Presidente guineense para que diligenciasse junto do Governo de Luanda para que a Missang entregasse os meios bélicos que dispõe em Bissau ou então que os devolvesse a Angola.
O responsável diz que a missão militar angolana se tem vindo a reforçar com materiais bélicos desde o levantamento militar de 26 de dezembro de 2011. No entanto, assegura, o referido armamento nunca chegou a ser entregue aos militares guineenses e a Missang alega que essa decisão competiria ao Governo angolano.
Os acordos que criaram a missão de cooperação técnico-militar angolana não preveem que Angola tenha material bélico em Bissau, lembra Dabana Na Walna.
Bissau nega violação de acordos
Na passada quarta-feira (04.04), o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau anunciou que o seu governo “não constatou, até ao momento, nenhuma violação do acordo por parte da Missang” e comprometeu-se a “respeitar rigorosamente” o protocolo para a implementação do programa de cooperação técnico-militar e de segurança entre Angola e a Guiné-Bissau.
Frisando que a cooperação com Angola é “fundamental”, o Governo da Guiné-Bissau manifestou a sua “firme determinação” não só em manter a Missang no país, como também em reforçá-la. Bissau lembrou ainda que os militares devem respeitar o poder civil, pois são apenas executores do acordo assinado entre os dois Estados.
Autora: Madalena Sampaio (com agência Lusa)
Edição: Helena Ferro de Gouveia