Forças da Etiópia conquistam cidades estratégicas em Tigray
19 de outubro de 2022O Governo federal etíope anunciou na terça-feira (18.10) a conquista de três cidades-chave na região norte de Tigray. "A Força de Defesa Nacional Etíope tomou o controlo das cidades de Shire, Alamata e Korem sem confrontos nas áreas urbanas", lê-se numa declaração governamental publicada no Twitter.
Com a ajuda das tropas eritreias, o exército etíope bombardeou e conquistou esta cidade estratégica que poderá permitir às forças federais avançarem para outras áreas da região, inclusive para a capital Mekelle, a cerca de 140 quilómetros.
Apesar da confirmação da morte de três civis no ataque, entre os quais um trabalhador humanitário, o Governo de Abiy Ahmed explicou, no Twitter, que a conquista deste território permitirá "acelerar a entrega de ajuda humanitária às populações da região".
As forças da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF) confirmaram a perda do controlo de Shire e outras duas importantes cidades da região para as forças governamentais. As autoridades da região de Tigray estão agora a exortar os cidadãos da região a "ripostar".
Na segunda-feira, o Governo etíope tinha afirmado que queria assumir o controlo dos aeroportos e outras instalações federais em Tigray, afirmando que é necessário confiscar infraestruturas-chave no norte para proteger o espaço aéreo e distribuir ajuda humanitária.
As autoridades adiantaram ainda que estavam empenhadas na "resolução pacífica" do conflito de dois anos com a TPLF e os seus aliados.
ONU, UA e Ocidente apelam a cessar-fogo imediato
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, a União Africana (UA), os Estados Unidos da América e outras potências ocidentais, incluindo a Alemanha, alertaram para o agravamento da violência em Tigray.
Guterres reafirmou na terça-feira o seu apelo a um cessar-fogo imediato e incondicional e à retoma dos serviços humanitários. "A situação na Etiópia está fora de controlo. A violência e a destruição estão a atingir níveis alarmantes. O conflito na região de Tigray deve terminar agora – as forças armadas da Eritreia e da Etiópia devem retirar-se imediatamente. Não existe uma solução militar", frisou.
Sobre a situação humanitária no terreno, Guterres afirmou que "o nível de necessidade na Etiópia é assombroso. Mesmo antes do reinício das hostilidades em agosto, 13 milhões de pessoas necessitavam de alimentos e outros apoios em Tigray, Amhara e Afar". No Twitter, o secretário-geral da ONU instou todas as partes a "permitir e facilitar a passagem rápida e desimpedida de ajuda humanitária a civis".
Alemanha pede diálogo nacional
A ministra de Estado alemã no Ministério Federal dos Negócios Estrangeiros Katja Keul disse à DW que um diálogo nacional seria um passo importante para a resolução do conflito do Tigray.
"Chegar à paz e ao diálogo nacional de segurança pode ser um passo muito importante, não há um padrão para cada país porque cada conflito tem o seu próprio padrão", afirmou.
Keul disse que alcançar a paz exigirá um compromisso sério por parte dos líderes políticos envolvidos no conflito: "É importante, em primeiro lugar, que os líderes políticos estejam dispostos a fazer este processo. Depois, é necessário que seja inclusivo, com a participação de grupos vulneráveis, e depois, no final, se for bem sucedido, o passo seguinte é implementar os resultados do diálogo nacional".
Conversações de paz adiadas
A ONU já disse que está pronta a apoiar a União Africana para acabar com a guerra. Em agosto, um cessar-fogo de cinco meses entre o Governo etíope e as forças regionais de Tigray colapsou, levando a novos confrontos.
As conversações de paz propostas para o início deste mês na África do Sul foram adiadas, não tendo sido anunciada qualquer nova data. No domingo, a UA apelou a um cessar-fogo imediato. O presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, exortou os rivais a "retomar o diálogo". As autoridades de Tigray disseram que as suas forças iriam respeitar uma trégua imediata.
Redwan Hussein, Conselheiro de Segurança Nacional do Primeiro Ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, disse na terça-feira que o Governo federal está à espera de uma nova data da UA. De uma forma subtil, Hussein rejeitou a alegação do de secretário-geral da ONU de que o conflito está fora de controlo. "Só para que conste, o conflito não está em espiral em oposição a alguns que gostariam de o pintar", disse, no Twitter.
Eritreia nega responsabilidades
Befekadu Hailu, analista político e social em Adis Abeba, disse à DW que um cessar-fogo deve preceder as conversações de paz: "Se houver um cessar-fogo e um reinício da ajuda humanitária e mecanismos de proteção para os civis que sofrem, penso que é quando começamos a ter esperança".
A situação humanitária é particularmente preocupante em Shire, uma cidade de 100.000 pessoas onde tropas etíopes e eritreias estão empenhadas numa operação conjunta contra a TPLF.
Na sexta-feira, um trabalhador humanitário do Comité Internacional de Salvamento foi uma das três pessoas mortas em combate. A Etiópia disse que "lamenta profundamente" os danos causados aos civis e aos trabalhadores humanitários em Tigray.
Entretanto, o Ministro da Informação da Eritreia, Yemane Meskel, rejeitou as críticas de que a Eritreia estava a contribuir para a escalada das hostilidades. "A busca da paz duradoura não pode ser seletiva em termos legais e morais", escreveu no Twitter.
Como começou o conflito?
O primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou tropas governamentais para Tigray em novembro de 2020, após acusar a TPLF de atacar campos militares.
A TPLF dominou a aliança política no poder na Etiópia durante décadas, antes de Abiy tomar o poder, em 2018.
O conflito matou milhares de civis, obrigou milhões a fugir e deixou centenas de milhares de pessoas à mercê de uma possível fome.