Fome ameaça populações do Sudão do Sul
22 de fevereiro de 2017Três anos de guerra civil no Sudão do Sul, uma seca severa e a profunda crise económica que devastou o país levaram a que fosse declarada uma situação de fome em dois condados do estado de Unidade, no norte.
Mais de 100 mil pessoas estão a passar fome na região e teme-se que o problema se alastre. Segundo um relatório das Nações Unidas, mais um milhão de pessoas está em risco.
Dirigentes da ONU denunciaram que o Presidente Salva Kiir continuava a bloquear o acesso de ajuda alimentar a algumas áreas. Mas, esta terça-feira (21.02.), Kiir garantiu que as organizações humanitárias terão "acesso ilimitado" às populações necessitadas em todo o país.
"Estamos cientes do fracasso das colheitas no ano passado e estamos a tomar medidas para evitar uma potencial fome", afirmou o chefe de Estado sul-sudanês, que prometeu ainda a oferta de alimentos básicos e a atribuição de subsídios.
Próximos tempos são "decisivos"
Os dados do Governo e das agências das Nações Unidas apontam para o agravamento da situação nos próximos meses: 4,9 milhões de pessoas, cerca de 42% da população do país, poderão ficar em situação de insegurança alimentar entre fevereiro e abril.
Isaiah Chol Aruai, diretor do Instituto Nacional de Estatística do Sudão do Sul, teme que o número de pessoas afetadas chegue aos 5,5 milhões em julho.
"Os dados mostram que, a longo prazo, os efeitos do conflito, combinados com o preço elevado dos alimentos, a crise económica e a falta de meios de subsistência estão a contribuir para o agravamento da insegurança alimentar", explica Aruai.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mais de 250 mil crianças sofrem de malnutrição severa no país e poderão morrer, caso não chegue a tempo a ajuda alimentar.
"Os próximos dias, semanas, meses são decisivos", alerta Marixie Mercado, porta-voz do fundo. "A UNICEF está a tentar a todo o custo salvar estas crianças. A questão é: Se não tratarmos uma criança severamente malnutrida, é muito provável que ela morra. Mas, se conseguirmos chegar às crianças com apoio terapêutico, elas podem recuperar quase na totalidade."
Para quando o fim da guerra?
O Sudão do Sul tornou-se independente do Sudão em julho de 2011. Dois anos depois, começou um conflito entre Salva Kiir e o seu vice-presidente, Riek Machar, que perdura, apesar da assinatura de um acordo de paz em agosto de 2015.
Kiir renovou na terça-feira o apelo à participação no diálogo nacional - segundo o chefe de Estado, essa é uma prioridade do Governo. Kiir referiu que a iniciativa "não é um truque ou uma tática dilatória" para consolidar o poder, ao contrário do que afirmam os críticos.
Os trabalhos da comissão para o diálogo nacional deverão arrancar em março.
Num discurso a propósito do início do ano parlamentar, Kiir assegurou também que tem um "novo plano económico" para melhorar a situação do país, que prevê a reabertura dos poços de petróleo do estado de Unidade.
O Presidente disse ainda que o Executivo sul-sudanês quer melhorar as relações com a comunidade internacional, após três anos de tensão.