Fim de semana traz apoio e repúdio ao governo em Angola
23 de setembro de 2011Duas manifestações estão marcadas para o fim de semana na capital angolana, Luanda: a primeira, no sábado (24.09), a favor do presidente José Eduardo dos Santos; e a segunda, contra o governo, está marcada para este domingo (25.09). Na segunda manifestação, jovens querem prestar solidariedade aos 18 condenados que estavam entre os 21 detidos depois de terem protestado contra o poder, no início do mês (03.09).
"O grande objetivo será apelar à libertação dos ‘manos’ [sic] que foram condenados. Então, decidimos transferir a manifestação do dia 24 para o dia 25, para não chocar com as autoridades", disse à Deutsche Welle em Luanda um dos organizadores da marcha, que não se identificou.
Originalmente, a manifestação contra o governo estava marcada para sábado (24), mas acabou sendo adiada para o dia seguinte. O protesto contra o governo de José Eduardo dos Santos está sendo organizado por vários grupos, incluindo o movimento estudantil universitário.
"A força nunca venceu"
Outro jovem – que também não se identificou – afirmou que "tudo está preparado" e que a manifestação pela libertação de jovens detidos, segundo ele, "deverá ter muita aderência".
Já Medil Campos é um "cidadão comum" ligado ao movimento apartidário 7311 [em referência ao dia 07.03, quando aconteceu a primeira manifestação contra o governo, em Luanda, este ano], que ajuda a organizar o encontro de domingo. Também ele espera mais presença de jovens na manifestação – tanto em Luanda quanto diante de embaixadas no exterior.
Em entrevista à Deutsche Welle (veja o link abaixo), Campos também pediu àqueles que têm a intenção de comparecer à manifestação não levem "objetos que possam machucar. Que ninguém vá com agressividade. Sei que os ânimos estão exaltados, mas temos de manter a calma e saber ser pacíficos. A força nunca venceu", afirmou.
Campos disse ainda que "não tem medo" – nem de morrer – porque já sabe "do que eles [o governo] são capazes".
"Máquina do partido vai funcionar", diz analista
O jornalista e analista angolano e português Orlando Castro acha "previsível" que a manifestação pró-governo terá "muito mais gente do que a outra, porque a máquina do partido vai funcionar. O MPLA tem todos os instrumentos legais – e ilegais – para concentrar as pessoas em Luanda", afirma.
Mas, para Castro, "não se pode ler o impacto das manifestações em Angola pelo número de participantes". Na manifestação de domingo, o analista acredita que aparecerão entre 300 e 400 pessoas – "mas logo a seguir serão mais. Porque, mesmo do lado do MPLA, começa muita gente a também achar que os manifestantes têm razão. Não podem, contudo, vir à rua dizer isso", avalia Castro. Ele ainda diz acreditar que várias pessoas vão mudar de lado "quando surgir melhor oportunidade", já que José Eduardo dos Santos é "um ditador como qualquer outro, que tem a população ao lado dele enquanto estiver no poder".
"É uma pena que José Eduardo dos Santos não tenha percebido isso e que não queira fazer uma transição pacífica, de modo a evitar consequências que de fato podem ser graves", acrescenta Orlando Castro.
Líder juvenil da oposição critica local de manifestação pró-governo
Segundo a Deutsche Welle apurou, o partido governista MPLA deverá usar um espaço proibido pelas autoridades administrativas de Luanda.
Na quinta-feira (22.09), o governo provincial de Luanda emitiu circular dizendo que a "grande marcha popular" de apoio ao presidente angolano ficou dividida por oito dos nove municípios que compõe Luanda: Cacuaco, Cazenga, Ingombota, Kilamba Kiaxi, Maianga, Samba, Sambizanga e Viana. Os manifestantes do município do Rangel deverão juntar-se aos do Cazenga.
A forma original como a marcha seria realizada, segundo o MPLA anunciou na última semana, teve de ser alterada para "não colidir" com a decisão do governo provincial de Luanda. É que os locais previstos inicialmente pelo MPLA chocavam com os espaços determinados pelo governo da província.
Mfuka Muzemba, secretário-geral da juventude da UNITA (maior partido da oposição em Angola), disse reprovar a circular do governo provincial de Luanda – que determina os espaços públicos para manifestações. “Primeiro, porque esta circular é nula – porque não vem no espírito do ordenamento jurídico. Viola grave e completamente a Constituição, que estabelece o direito à manifestação”, avaliou Muzemba, que foi detido durante alguns dias por prestar solidariedade aos jovens detidos em 03.09.
Já o líder juvenil do partido governista MPLA, Luther Rescova, apelou aos jovens a fazerem manifestações pacíficas e justas: “Que o exercício do direito de manifestação seja feito como a Constituição diz: pacífico [sic], em obediência à lei, com justificação plausível e conforme ao direito de cidadania. Até aí, não há nenhum problema”.
Terceira manifestação de angolanos insatisfeitos em um mês
No dia 12.09, 18 jovens foram condenados a penas entre 45 dias e 3 meses de prisão efetiva. Eles tinham sido presos nas imediações da igreja Sagrada Família, local próximo a área nobre da capital angolana.
Alguns dias depois, mais 27 jovens ouviram veredito da Justiça angolana: foram absolvidos por falta de provas. Estes 27 manifestantes haviam comparecido diante do edifício onde estava acontecendo o processo dos jovens presos em 03.09, para prestar solidariedade aos julgados. O encontro planejado para domingo deverá será a terceira manifestação de descontentamento de angolanos com o governo do país este mês.
Autora: Renate Krieger (com Manuel Vieira, em Luanda, e agência Lusa)
Edição: António Rocha