Nyusi criticou e serviço melhorou no Hospital de Quelimane
24 de julho de 2019As denúncias de corrupção e mau atendimento no Hospital Central de Quelimane, na Zambézia, marcaram a visita do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, àquela província na semana passada. "Existem no hospital cobranças ilícitas para aceder a exames médicos e [isso] é crime. São casos frequentes e nós conhecemos as pessoas", denunciou o chefe de Estado.
"Os equipamentos de ponta estão a enriquecer uma pessoa em detrimento dos doentes. Há doentes graves em espera", lamentou Filipe Nyusi que referiu que alguns utentes pagam para ter tratamento privilegiado, deixando outros à mercê do seu estado de saúde.
Uma semana depois das queixas de corrupção se tornarem públicas, os utentes não detetam agora irregularidades no funcionamento daquela unidade. "Sobre o atendimento aqui no hospital, vejo que está a andar bem", disse um dos pacientes. "Vim com problemas numa perna, mas estão a atender bem e estou à espera de medicamentos", afirmou outro cidadão.
Combate a um problema generalizado
Filipe Nyusi afirma ter conhecimento de muitas denúncias de corrupção no Hospital Central de Quelimane e afirma que o problema começa no topo da hierarquia hospitalar. Segundo o chefe de Estado, os gestores daquela unidade de saúde estão a enriquecer de forma ilícita.
Ouvido pela DW África uma semana depois das críticas do Presidente moçambicano, o diretor do hospital escusou-se a gravar uma entrevista, mas diz ter tomado conhecimento das declarações de Filipe Nyusi. O responsável prometeu tecer esforços para combater atos de pequena corrupção naquela unidade.
Segundo o Presidente moçambicano, a corrupção nas instituições públicas são um problema generalizado, já que os desvios de dinheiro atingem cargos de topo, não só no setor da Saúde, mas também ao nível das autoridade tributárias de Moçambique.
"Há subfaturação nas receitas das autoridades tributárias. Os inspetores de trabalho apanham as pessoas e aumentam a fatura. A multa deveria ser de cinco mil mas eles exigem um milhão, que é para a pessoa ficar desanimada, discutir e pagar cinquenta mil. Esse valor vai para o bolso [desses inspetores]”, exemplificou o chefe de Estado moçambicano.
Filipe Nyusi admite mesmo que os corruptos podem estar a usar a camisola do partido FRELIMO, a força no poder, com o objetivo de se parecerem impunes. "Não é por causa de ser da FRELIMO, não tem nada a ver… Ladrão é ladrão", garantiu o Presidente que é candidato a um segundo mandato nas eleições de 15 de outubro. "Fiquem atentos que isso pode sair-vos caro", alertou ainda o Presidente.
Medidas de fundo
Para o analista político Lourindo Verde, o combate à corrupção tem de ir além dos discursos políticos. "É preciso ir à raiz [dos problemas]", assevera.
“O trabalhador se é pobre e não tem condições para sobreviver acaba por se deixar levar na corrupção”, explica o politólogo. “Esses são elementos que têm de ser combatidos. Precisamos de ir ao encontro dos problemas que são as desigualdades e a pobreza”, adianta.
“Se eu sou enfermeiro e vejo outro enfermeiro com melhores condições de vida por causa da sua falta de ética no trabalho, acabo por cair na onda da corrupção”, resume o analista.