FIFA: A "revolução" de Kigali
25 de outubro de 2018Kigali pode ser palco de uma decisão histórica da FIFA. O congresso do organismo que tutela o futebol mundial vai discutir esta sexta-feira (26.10) uma proposta para a criação de um novo Mundial de clubes, a disputar a cada quatro anos, e com a presença de 24 equipas.
Trata-se de um dos compromissos eleitorais de Gianni Infantino, e visa conferir maior dignidade e competitividade à competição, que atualmente é anual, e reúne apenas os campeões de cada confederação continental e o campeão do país organizador (este ano, tal como em 2017, os Emirados Árabes Unidos).
A falta de dimensão mediática e o consequente menor interesse de clubes e patrocinadores pelo atual modelo leva o Presidente da FIFA a projetar uma prova completamente remodelada, com uma periodicidade idêntica à do Mundial para seleções nacionais, e com alargamento a alguns dos clubes com nomes mais sonantes do futebol à escala planetária.
Modelo misto com grupos e eliminatórias
Junho e julho são os meses escolhidos para a nova competição, que se disputaria em três fins de semana, com os 24 clubes apurados a serem divididos em oito grupos de três equipas cada, o que corresponderia, nesta fase, a dois jogos por clube. O vencedor de cada grupo passa a uma fase eliminatória, com quartos-de-final e meias-finais, até se conhecerem os dois finalistas da competição. Um formato simples, que garantiria, aos clubes apurados para o jogo decisivo, um total máximo de cinco jogos na competição.
Mais imprevisível, mais atraente para o público, para os patrocinadores e para os meios de comunicação social, o novo modelo de Mundial pretende, igualmente, cativar técnicos e jogadores, por se tratar de uma prova com uma amplitude muito superior à que atualmente se disputa.
Europa com metade das vagas disponíveis
A Europa, apesar de toda a contestação que se prevê por parte da UEFA ao modelo proposto, tem o maior número de vagas no projeto do novo Mundial de clubes: serão doze os emblemas do "velho continente" a marcar presença, incluindo os quatro últimos vencedores e finalistas vencidos da Liga dos Campeões, e os quatro vencedores da Liga Europa.
Já a CONMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol), ficaria com apenas quatro vagas garantidas (a atribuir aos vencedores das quatro edições da Copa Libertadores, a principal competição para clubes no continente sul-americano), podendo ainda dispor de uma quinta vaga, a ser disputada com o campeão da OFC (a Confederação de Futebol da Oceânia).
Curiosamente, a CONMEBOL já manifestou apoio público à proposta de Infantino, enquanto a UEFA continua muito reticente, até porque a prova poderia retirar, no limite, e nos anos da sua realização, algum impacto à Liga dos Campeões. Quanto a África, à Ásia e à CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas), dispõem de duas vagas cada, restando ainda uma para o país organizador da competição.
Operação financeira que pode chegar aos mil milhões de dólares
No documento em discussão na reunião magna da FIFA, sobressai o critério para atribuição da organização da prova: "interesse por futebol, infraestrutura necessária", mas também, o que se torna determinante em competições desta dimensão, "propensão a pagar uma taxa para receber o torneio". Condições relativas ao clima e à distância a percorrer pelos clubes são igualmente focadas, considerando que, na ideia inicial, o Mundial de clubes deverá ser disputado em seis estádios distintos, durante 18 dias, para um total de 31 desafios.
Trata-se de uma operação financeira de peso e extremamente rentável para o organismo máximo do futebol mundial. A FIFA estima obter receitas finais entre 650 milhões e um mil milhão de dólares norte-americanos, revertendo 75% para os clubes participantes, 5% para ligas e clubes que não participem, e 20% para programas de desenvolvimento da modalidade por todo o mundo.
E já há interessados nesta proposta. Um fundo de investidores do Médio Oriente e da Ásia teria oferecido 25 mil milhões de dólares pelos direitos deste novo Mundial de clubes e de uma eventual liga global entre seleções nacionais, uma prova já falada em bastidores mas ainda sem proposta formalizada.
No entanto, a FIFA parece apreciar com redobrados cuidados este tipo de ofertas, em face dos avultados valores envolvidos. De resto, não é hábito Infantino e seus pares admitirem a possibilidade de venda de direitos exclusivamente a investidores, pelo que qualquer passo a dar neste sentido terá de ser estudado ao pormenor. A reunião da capital do Ruanda, para já, apenas deverá aprovar o novo Mundial de clubes, o seu modelo de disputa e periodicidade, e o ano da primeira edição: 2021.