Conflito entre Coreias terminará ainda este ano
27 de abril de 2018No culminar do encontro histórico, as Coreias comprometeram-se a cooperar no processo de desnuclearização e no estabelecimento de uma "paz permanente" na península.
"Hoje, o Presidente Kim Jong-Un e eu confirmamos o objetivos de ter uma península livre de armas nucleares. A partir deste momento, declaro que as Coreias do Sul e do Norte vão cooperar juntas no sentido de uma completa desnuclearização da Península da Coreia", afirmou Moon Jae-in.
Moon Jae-in anunciou ainda o fim do conflito que durava há décadas. "Também concordamos que vamos terminar com armistício que era instável e estabelecer um clima de paz sólido e permanente entre os países, através de uma declaração de fim de guerra e de um Tratado de Paz", declarou.
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, quis reforçar que este acordo não terá o mesmo fim de outros realizados anteriormente, comprometendo-se a comunicar com os vizinhos do sul.
"Hoje, vamos assegurar que o acordo a que chegamos, tão aguardado pelos cidadãos desta península e pelo mundo, não será mais um entre promessas que não foram cumpridas, através de boa comunicação e cooperação um com o outro, de forma a obter bons resultados", assegurou KimJong-un.
Visitas mútuas
Durante a manhã do encontro desta sexta-feira (27.04), o líder da Coreia do Norte já tinha dado provas de abertura face à aproximação dos dois países, mostrando-se disponível para visitar o palácio presidencial do seu homólogo do Sul, em Seul.
"Irei à Casa Azul a qualquer momento se me convidar", afirmou o líder da Coreia do Norte, de acordo com o porta-voz sul-coreano Yoon Young-chan. Entretanto, também o Presidente da Coreia do Sul já fez saber que visitará Pyongyang no outono deste ano.
O primeiro encontro entre Kim Jong-un e Moon Jae-in decorreu na "Casa da Paz”, junto à fronteira entre os dois países. Na agenda estavam a paz na península e o fim dos exercícios nucleares da Coreia do Norte. Além de ser o primeiro encontro os dois, é o terceiro entre líderes coreanos em 65 anos, desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953.
Esta reunião surge no seguimento de uma tentativa de aproximação que começou com a participação norte-coreana nos Jogos Olímpicos de inverno na cidade sul-coreana de Pyeongchang, que decorreu em janeiro de 2018. Durante o evento, Kim Yo-jong, a irmã mais nova de Kim Jong-un, entregou uma mensagem do líder de Pyongyang onde se manifestava o desejo para um encontro.
Sul-coreanos divididos
Apesar do acontecimento ser encarado internacionalmente como positivo, não há consenso entre a população sul-coreana, tendo havido manifestações contra e favor, na Coreia do Sul.
"Vim cá porque estava muito chateada. A República da Coreia está a tornar-se comunista. Estamos aqui para protestar contra este encontro entre as Coreias", explica Choi Young Suk, uma das manifestantes contra o evento.
Por outro lado, uma jovem cidadã sul-coreana descreve que o encontro de hoje a emocionou. "De repente, comecei a chorar quando o líder da Coreia do Norte veio cá para se encontrar com o Presidente Moon Jae-in e passou a zona de demarcação militar. Não sei porque comecei a chorar mas foi um momento que me tocou bastante”, conta Kim Myung-Shin.
Reações mundiais
A China aplaudiu o "momento histórico" que pode criar uma nova oportunidade para a estabilidade na península coreana. A China "aprecia a coragem e determinação" demonstradas pelo Presidente sul-coreano e pelo líder norte-coreano, afirmou a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying.
Os Estados Unidos da América manifestaram esperança de que a cimeira conduza a "um futuro de paz". "Esperamos que as conversações permitam caminhar para um futuro de paz e de prosperidade para toda a península coreana", declarou a Casa Branca em comunicado.
O Presidente norte-americano também saudou o "encontro histórico" entre os líderes da Coreia do Norte e da Coreia do Sul depois de "um ano furioso de lançamentos de mísseis e de testes nucleares". "Estão a acontecer coisas positivas, mas só o tempo o dirá", escreveu Trump no Twitter.
Do Japão, o primeiro ministro, Shinzo Abe, espera que sejam "tomadas medidas concretas" no seguimento deste encontro e diz que vai estar atento à conduta da Coreia do Norte, juntamente com os EUA e a Coreia do Sul.
"Os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão vão estar a coordenar de perto, antes da cimeira entre os norte-americanos e os norte-coreanos", afirmou Shinzo Abe. Em março deste ano, Trump concordou encontrar-se com o líder norte-coreano, mas ainda não há data definida para o evento.
O Kremlin reagiu à "notícia muito positiva" relativamente à paz entre as duas Coreias. O Presidente russo, Vladimir Putin, "sublinhou repetidas vezes que uma solução viável e estável da situação na península coreana só podia basear-se no diálogo direto e hoje vemos que o diálogo direto se realizou", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O secretário-geral da NATO disse que a Aliança Atlântica apoia plenamente uma solução política para a tensão na península da Coreia. "Acolhemos com agrado os progressos feitos hoje e os compromissos que os dois líderes fizeram para resolver os problemas de forma pacífica", comentou Jens Stoltenberg em conferência de imprensa.