Fecho de fronteiras da África do Sul atrapalha moçambicanos
14 de janeiro de 2021"De momento a fronteira encontra-se fechada. Não podemos deixar-vos passar. Ouviram?"
A questão é colocada pelo coronel Obed Maditsi, gestor do lado sul-africano da fronteira de Ressano Garcia. Um grande grupo de imigrantes olha para ele - estão visivelmente desiludidos e fatigados, depois de dias e noites à espera de passar para o outro lado da fronteira.
"Vocês deverão voltar no dia 15 de fevereiro", aconselha o polícia.
Desde 12 de janeiro só estão autorizados a circular na raia fronteiriça transportadores de combustível ou matérias-primas, cidadãos que regressem aos seus países ou portadores de visto de residência na África do Sul, sem contar com as emergências médicas. Todos as outras pessoas são mandadas para trás pelas autoridades sul-africanas.
20 postos fronteiriços encerrados
O Presidente Cyril Ramaphosa mandou fechar as 20 fronteiras terrestres do país até15 de fevereiro para pôr fim às filas de trânsito de quilómetros, registadas em ambos os lados.
Devido ao surgimento de uma nova estirpe do coronavírus, a África do Sul passou a exigir testes à Covid-19 feitos nas últimas 72 horas, mas a decisão apanhou muitas pessoas de surpresa, que acabavam retidas entre os dois países. Por outro lado, o país passou a considerar como "inválidos" os testes rápidos efetuados fora do território.
"Temos os testes na mão e não estamos a conseguir atravessar a fronteira. Passou um dia e algumas horas desde que estamos aqui parados, não nos estão a dizer nada", relatou à DW África um dos viajantes, Charles Chimbane.
"Não sabemos o que está a acontecer. Paralisaram a fronteira toda", acrescentou.
O problema económico
Com as fronteiras fechadas, as filas de trânsito começaram a dissipar-se. À primeira vista, a medida do Presidente Cyril Ramaphosa surtiu efeito, embora tenha criado um problema para a vida de várias pessoas.
"Não está fácil a situação da fronteira, está mal mesmo. Nós saíamos de Maputo para a África do Sul para tentar comprar a grosso [comercialização de grandes quantidades de produtos] e, hoje em dia, a situação está muito caótica mesmo", comenta Pedro Manhique, um comerciante moçambicano que depende da fronteira para importar os seus bens. "A vida já parou e não há nada que ande", referiu.
Com as fronteiras terrestres fechadas e a pandemia sem fim à vista, muitos serão empurrados para o desemprego, comenta Pedro Manhique. "Espero mesmo, de verdade, que isto acabe aqui. O emprego em si já não existe e haverá muita bandidagem", antevê.
A nova variante do vírus detetada na África do Sul provocou um aumento exponencial da transmissão da infeção. O país registou, até agora, mais de 1,2 milhões de casos de coronavírus.
Ao todo, em África, registaram-se pelo menos 75.701 mortes entre os 3.146.765 casos identificados desde o início da pandemia.