Falta de financiamento põe em risco a desminagem em Angola
9 de julho de 2015A organização não-governamental Halo Trust, que conduz operações de desminagem em vários países, poderá ver paralisadas as suas operações na província angolana de Cuando Cubango, por falta de financiamento.
Segundo José António, gestor provincial da Halo Trust em Angola, a União Europeia, os Estados Unidos da América e a Finlândia deixaram de financiar o projeto devido à crise económica. Cuando Cubango, no sul de país, é uma das regiões mais afetadas por minas em todo o território angolano.
Calvin Ruysen, supervisor de operações da Halo Trust no Sul de África, refere que este declínio no apoio financeiro começou há alguns anos.
“Desde 2008 temos assistido a uma redução do apoio das comunidades internacionais e de outros doadores nos nossos projetos em Angola. Precisamos de que esta tendência se inverta para podermos continuar o nosso trabalho. Temos tido um grande sucesso nas operações em Moçambique, e sabemos que podemos replicar esse sucesso em Angola se tivermos o financiamento para tal. Penso que uma das razões para este declínio foi a crescente percepção internacional da riqueza de Angola devido ao petróleo”, afirma o especialista.
Ruysen acredita que a organização irá encontrar uma alternativa de financiamento, de modo a que não seja necessário parar totalmente as operações. Já foi solicitado apoio ao Governo angolano, mas ainda não foi obtida uma resposta.
“Gostaríamos de contar também com o apoio do Governo de Angola. Já pedimos ajuda e estamos esperançosos”, refere Calvin Ruysen.
Higino Carneiro, o governador da província do Cuando Cubango, garantiu que irá levar o caso ao Governo central, e referiu que “urge a necessidade de o Executivo ajudar financeiramente esta operadora de desminagem que trabalha arduamente em benefício de Angola.”
Paralisação põe em risco as comunidades
A Halo Trust atua em várias zonas de Angola desde 1994. Já retirou milhares de minas na região de Cuando Cubango e em todo o território angolano, deixadas durante os 27 anos de guerra civil. A paralisação das operações põe em risco as comunidades desta região.
“Temos conduzido com sucesso várias operações de desminagem no centro e sul de Angola, mas ainda temos muito trabalho pela frente, e por isso tentamos alertar para o facto de que é urgente retirar todas as minas daquela região”, declara Ruysen. “Se as operações forem paradas, muitos dos nossos trabalhadores locais terão de ser despedidos, o que irá afetar também as suas famílias. Além disso, ao retirarmos as minas estamos a proteger a população e a permitir que usem as terras de forma produtiva, desenvolvendo assim as comunidades.”
Desde 2002, a Halo Trust já retirou mais de 33 mil minas antipessoal, 15 mil minas antitanque e milhares de engenhos explosivos não detonados. Bié, Moxico, Cuando Cubango e Huambo são as zonas mais minadas do país.