Explosão na Guiné Equatorial: "Uma negligência muito grave"
9 de março de 2021Pelo menos 98 pessoas morreram devido à explosão de domingo (07.03) num quartel militar da cidade de Bata, na parte continental da Guiné Equatorial. De acordo com os últimos dados oficiais, mais de 600 pessoas ficaram feridas. As explosões destruíram dezenas de habitações e edifícios públicos num raio de vários quilómetros.
"Os hospitais estão cheios, as pessoas estão à porta, ninguém identifica as vítimas, não sabemos nada", afirmou um morador em entrevista à Lusa.
Segundo a agência de notícias, as ruas da cidade estão a ser patrulhadas pelos militares e foi criado um perímetro de segurança nas zonas mais afetadas.
Outra moradora disse que ainda não conseguiu ir até à casa dos seus pais, perto do quartel: "Não sei onde estão. Não consigo saber".
Inquérito independente?
O Presidente Teodoro Obiang pediu apoio à comunidade internacional. Espanha anunciou o envio de 60.000 euros em ajuda humanitária, incluindo medicamentos e material médico.
Segundo Obiang, já foi aberto um inquérito às explosões de domingo. Inicialmente, o chefe de Estado disse que a explosão teria acontecido devido ao "manuseamento negligente de dinamite", mas o vice-Presidente, Teodoro Nguema Obiang Mangue, afirmou entretanto que os primeiros resultados das investigações sugerem que fagulhas de uma queimada de um agricultor junto ao quartel poderão ter entrado em contacto com munições de alto calibre.
Contudo, um jurista contactado pela agência Lusa refuta a tese de que havia uma queimada nas imediações do quartel: "A origem é lá dentro, não tem origem civil, tem origem nos militares. É uma negligência muito grave", disse.
O advogado duvida que seja possível responsabilizar os verdadeiros culpados.
"É um quartel no meio da cidade, com toneladas de equipamento que está armazenado sem que se saibam as condições. Acha que eles vão querer investigar devidamente?", questionou, sob condição de anonimato.
O partido Convergência para a Social Democracia da Guiné Equatorial (CPDS, na oposição) acusou esta terça-feira Teodoro Obiang de "minimizar a maior catástrofe da história" do país, exigindo-lhe que decrete luto nacional de 15 dias.
"Este luto concluiria com um ato público, oficial e não partidário de homenagem às vítimas, com a participação de todas as sensibilidades políticas, religiosas e sociais do país", pediu o CPDS em comunicado.