Ex-militares poderão sair às ruas no dia das eleições gerais angolanas
2 de agosto de 2012
Em Angola, os antigos militares sempre foram um grupo sensível devido ao grau das suas reclamações e a forma como as dirigem. Costumam ser vistos pelo poder como potencial causa de conflito.
Nos últimos meses, algumas reclamações foram rapidamente resolvidas, como a inserção de alguns na Caixa social das Forças Armadas ou em fundos de pensões.
Um chamado grupo COEMA (Comissão de Ex-Militares Angolanos) junta vários membros dos antigos militares que serviram os três exércitos de libertação que os movimentos MPLA (hoje no poder), UNITA (o maior partido da oposição) e FNLA constituíram até a independência.
Outros são membros das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola) e agentes do MINSE – Ministério da Segurança de Estado, criados pelo MPLA.
Um general na reserva, Silva Mateus, é hoje o rosto visível deste movimento. "Hoje [depois da guerra civil angolana, entre 1975 e 2002] estamos em paz. Mas costuma-se dizer que é uma paz militar. Não há tiros, já não há mortes. Mas o Estado mata-nos de outra maneira. Você vai a um hospital, não tem comprimidos, não é tratado. Nas escolas… uma reconciliação de fato passaria pelas instâncias que dirigem o país, abordar os assuntos da população com o próprio povo, que poderia dar o seu parecer sobre como quer que os problemas sejam resolvidos", disse à DW África.
"Não há paz em Angola"
Um dos grandes objetivos deste grupo é exigir do governo uma solução negociada e positiva para a reinserção social dos antigos militares, ao mesmo tempo que se mostram agastados com o comandante em chefe José Eduardo dos Santos. Manifestações podem ser convocadas para o dia das eleições gerais, 31.08.
"Estamos numa espécie de paz relativa porque a qualquer momento este país pode despoletar para coisas piores", alertou Silva Mateus. "Não há paz em Angola. Porque, enquanto não houver pão para todos, é difícil haver uma reconciliação".
Atualmente, milhares de soldados da UNITA e das FAPLA que vivem na mendicidade, pois segundo se sabe os projetos e medidas abrangem classes que vão dos capitães aos generais. É notado nos grandes centros urbanos, como Luanda, Benguela ou Lubango, que grande parte dos ex-militares estão a optar por trabalhos de moto táxi, uma forma de ganhar a vida.
Autor: Manuel Vieira (Luanda)
Edição: Renate Krieger/António Rocha