EUA contra China e Rússia na nova estratégia para África
14 de dezembro de 2018A administração do Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou esta quinta-feira (13.12), em Washington, o novo foco da sua estratégia para África, com o objetivo de combater o que classifica como práticas "predatórias" da China e da Rússia, que "deliberada e agressivamente direcionam os seus investimentos na região para obter vantagem competitiva".
Na apresentação a estratégia, o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, disse que os Estados Unidos passarão a escolher os seus parceiros africanos com mais cuidado.
"Os Estados Unidos deixarão de prestar assistência indiscriminada em todo o continente, sem foco ou priorização. E deixaremos de apoiar missões improdutivas, mal sucedidas e inexplicáveis de manutenção da paz da ONU", garantiu.
"Queremos algo mais para mostrar ao contribuinte norte-americano. Com a nossa nova estratégia para África, direcionaremos o financiamento dos EUA para países-chave e objetivos estratégicos específicos. Toda a ajuda dos EUA no continente fará avançar os interesses dos EUA e ajudará as nações africanas a avançar em direção à autossuficiência", explicou John Bolton.
Missões em risco
A nova estratégia dos EUA para África pode pôr em causa oito missões de paz da ONU no continente africano.
As oito missões são constituídas por mais de 87 mil pessoas destacadas de todo o mundo e tiveram orçamentos anuais que ascenderam a cinco mil milhões de dólares em 2018. Sete dessas missões totalizaram 4,948 mil milhões de dólares, ou seja, 4,350 mil milhões de euros.
Como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, os EUA têm grande poder de influência sobre as decisões e podem, desta forma, votar pela reconfiguração ou até fim das missões.
De 14 missões de paz que a ONU tem atualmente, oito estão localizadas em África: Abyei e Darfur (Sudão), Mali, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Saara Ocidental, Somália e Sudão do Sul.
Dedo em riste contra a China e a Rússia
Ao mesmo tempo, o conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump também acusou a China de se aproveitar de África, usando "subornos, acordos opacos e o uso estratégico da dívida para manter os estados africanos cativos aos desejos e demandas de Pequim".
Bolton foi mais longe, afirmando que os empreendimentos chineses no continente "estão cheios de corrupção e não atendem aos mesmos padrões ambientais ou éticos dos programas de desenvolvimento dos EUA. Tais ações são subcomponentes de iniciativas estratégicas chinesas mais amplas, incluindo "One Belt, One Road" - um plano para desenvolver uma série de rotas de comércio que levam à China e com a meta final de promover o domínio global chinês".
As críticas de John Bolton também visaram a Rússia, que o conselheiro acusou de "buscar influência através de transações corruptas" nos países africanos. Segundo Bolton, os esforços da Rússia e da China em África "impedem" o crescimento económico do continente.
"Infelizmente, centenas de milhares de dólares dos contribuintes americanos não alcançaram os efeitos desejados. Não travaram o flagelo do terrorismo, do radicalismo e da violência. Não impediram que outras potências, como a China e a Rússia, tirassem proveito dos países africanos para aumentar o seu próprio poder e influência, e não conduziram a uma governação estável e transparente, à viabilidade económica e ao aumento do desenvolvimento em toda a região", frisou.
Por isso, acrescenta, "de agora em diante, os Estados Unidos não vão tolerar esse padrão de ajuda sem efeito, sem prestação de contas". Em vez disso, segundo Bolton, Washington procura "um novo caminho" para obter, "finalmente, resultados".
"África Próspera"
O Congresso norte-americano aprovou legislação no início deste ano, criando uma agência de desenvolvimento internacional de 60 mil milhões de dólares, amplamente vista como uma resposta aos programas de desenvolvimento chineses no exterior.
Sob a nova estratégia "Prosper Africa", o conselheiro de Segurança Nacional disse que a intenção é encorajar "os líderes africanos a escolher projetos de investimento estrangeiro de alta qualidade, transparentes, inclusivos e sustentáveis, incluindo os dos Estados Unidos".
O anúncio da nova estratégia dos Estados Unidos para África acontece dois anos depois da posse do Presidente Donald Trump, e cerca de um ano após o episódio em que o chefe de Estado usou termos depreciativos para se referir a nações africanas.