Violência na Etiópia
4 de outubro de 2016A situação é muito tensa na capital etíope depois dos trágicos acontecimentos do fim de semana. Nas ruas de Adis Abeba milhares de pessoas protestam de forma barulhenta contra o Governo. As autoridades policiais reagiram de forma violenta utilizando gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Na cidade de Bishoftu, a sul da capital, ativistas do grupo étnico Oromo proclamaram "cinco dias de ira" depois da morte de várias pessoas na região. O Governo tinha declarado luto nacional, mas os ativistas não aceitaram. Como se não bastasse, a polícia procedeu a várias detenções, como por exemplo a do bloguista Seyoum Teshome na segunda-feira (03.10.) na sua residência.
Dezenas de milhares de pessoas pertencentes a comunidade Oromo tinham-se reunido nas margens do lago Harsadi para festejarem a tradicional festa de "Irreecha" no domingo (02.10.), uma festa de celebração das colheitas. O lago é considerado sagrado por esse grupo. No momento em que alguns dos participantes fizeram gestos considerados anti-governamentais (cruzar os punhos em frente a cara) e alguns lançaram garrafas em direção as forças de segurança, a polícia retaliou. A nuvem de gás lacrimogêneo provocou pânico geral e dezenas de pessoas cairam umas em cima das outras e algumas dentro de valas. O Governo fala em 52 mortos, mas organizações de defesa dos Direitos Humanos temem que várias centenas de pessoas tenha perdido a vida.
Bloguer preso
Este não é o primeiro caso, afirma o ativista Geresu Tufa em entrevista à DW África. Tufa, que vive no exílio na Holanda adianta: "A Etiópia é um Estado repressivo que tenta calar jornalistas críticos recorrendo a detenções arbitrárias e altas penas de prisão. O Comité Internacional de Proteção de Jornalistas, CPJ, exige a libertação imediata do bloguista crítico ao regime.
Ciclo da violência
Segundo Gebero Mariam, vice-presidente do partido da oposição Fórum Democrático da União Etíope, o Governo nunca admite os problemas e conta sempre as suas versões distorcidas da realidade: "Como sempre o Governo mente, dizem que as pessoas foram vítimas de um pânico geral, que escorregaram e por isso morreram. Mas esquecem-se de que o Governo, os soldados e polícias que dispararam para o ar e usaram gás lacrimogeneo é que são os responsáveis."
O ativista Tufa sublinha que "o que aconteceu constitui um choque para todos os cidadãos, por isso os protestos vão continiuar." Tufa exige que o Governo etíope aceite a proposta da ONU que se ofereceu para fazer um inquérito independente. Tufa conclui: "Não acredito que o regime aceite a proposta. A violência do Governo vai gerar novas violências, é um ciclo vicioso."
O ativista diz que a pressão da comunidade internacional devia ser muito maior. Devia-se inclusive cortar o apoio internacional ao Governo etíope.