Peritos confirmam massacre com 600 vítimas no Tigray
26 de novembro de 2020A Comissão Etíope dos Direitos Humanos (CEDH) confirmou nesta quarta-feira (25.11) o massacre de 600 civis na cidade de Mai-Kadra, na zona ocidental do Tigray, ocorrido a 9 de novembro. O incidente é tido como uma das maiores atrocidades do conflito entre o Governo etíope e a Frente de Libertação do Povo do Tigray (TPLF).
A CEHD recebeu informações sobre graves violações dos direitos humanos em Mai-Kadra logo após o massacre de 9 de novembro e enviou uma equipa de peritos para investigar. "As provas que reunimos indicam que a etnia Amharas e membros do que é coloquialmente conhecido como Wolkait foram perfilados e visados em ataques premeditados. Estamos a acompanhar de perto a situação", diz o porta-voz da CEDH, Aaron Masho.
Masho descreve o episódio como "um massacre horrível" que "pode constituir um crime contra a humanidade". O ataque teria sido alegadamente perpetrado pelo grupo juvenil tigreano conhecido como "Samri". No entanto, vários refugiados de Mai-Kadra que se encontram no Sudão culpam as forças governamentais pelos assassinatos.
Enviados da União Africana (UA) foram esta quarta-feira (26.11) à Etiópia para apelar por paz, horas antes de expirar o prazo dado às forças da TPLF para que se rendessem. Grupos de direitos humanos temem que um ataque das forças do Governo à capital de Tigray possa causar enormes baixas civis.
Prazo expirado
No domingo, o governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed fez um ultimato aos rebeldes, concedendo 72 horas para a TPLF depor as suas armas. Caso isso não ocorresse, o exército etíope iniciaria uma ofensiva a Mekelle - a capital da região montanhosa de 500 mil habitantes.
No campo de refugiados de Um Raquba, no lado sudanês da fronteira chegaram já cerca de 9 mil etíopes. "Não há internet, nem eletricidade [no Tigray]. Está tudo bloqueado e a minha família está lá. Não sei o que está a acontecer lá", informam pessoas recém-chegadas ao campo.
O conflito arrasta-se há três semanas e o crescente número de mortes de civis preocupa a comunidade internacional. Diplomatas de diversos países e a comitiva de alto nível da UA - liderada por Joaquim Chissano, Ellen Johnson Sirleaf e Kgalema Motlanthe - encontram dificuldades para convencer o Prémio Nobel da Paz, Abiy Ahmed, a cessar os combates em Tigray.
Ahmed não só continua a rejeitar pôr um fim ao conflito, como voltou ontem a exortar a comunidade internacional a abster-se de qualquer interferência "ilegal e indesejada" nos assuntos internos do seu país. Vozes no exército etíope garante que o receio de aumento de baixas civis num eventual ataque a Mekelle é infundado.
"Temos muita experiência de combate e de guerra. Nunca atacamos civis, muito menos aqui [dentro da Etiópia]. Sabemos exatamente como distinguir os civis dos militantes e nada acontecerá aos civis", argumenta Coronel Shuma Obsa, da Força de Defesa Nacional Etíope em entrevista à DW África.