Etiópia: Mais de 100 mortos em massacre na região Amhara
24 de dezembro de 2020O massacre ocorreu entre 4h e 12h em vários pontos de Meketel, em Benishangul-Gumuz, um dia após o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ter visitado a região e abordado o tema da violência étnica.
Em comunicado, a Comissão detalhou que 36 pessoas ficaram gravemente feridas, a maioria a tiros, e estão sendo tratadas em um hospital. Além disso, casas e campos de cultivo foram incendiados, de acordo com a EHRC, instituição humanitária independente.
"A polícia e as forças de defesa encarregadas da proteção dessa área não estavam presentes durante o ataque", ressaltou a Comissão, ao indicar que esses efetivos se mobilizaram para reforçar a segurança durante a visita da delegação de Abiy.
"Não está claro para a Comissão por que toda a equipe de segurança recebeu instruções para se retirar da área em nome da proteção da segurança das autoridades visitantes", informou a entidade, acrescentando que comunidades das etnias amhara, shinasha e orono, entre outras, vivem no local.
Ataque étnico?
Fontes oficiais da região disseram à Agência Efe que o massacre poderia ter como alvo membros da etnia amhara, mas a Comissão ainda não se pronunciou a respeito.
Sobreviventes do ataque que falaram com a Agência de Meios de Comunicação da região vizinha de Amhara disseram que os ataques se basearam na identidade e que foram direcionados contra a etnia amhara.
"Tivemos outra manhã sangrenta. O ataque foi cometido por elementos contra a paz que operam na região. Desta vez, há um número alto de vítimas, mas ainda não temos números exatos. O primeiro-ministro e sua delegação estiveram ontem em nossa capital (Assosa, capital de Benishangul-Gumuz, a 130 quilômetros de Metekel), onde se reuniram com líderes regionais e deram diretrizes rígidas para as autoridades priorizarem a situação da segurança da região", disse à Efe, por telefone, o chefe de comunicação do governo regional, Beyene Melese.
Corpos espalhados pela rua
Testamunha, citado pela imprensa local, na condição de anonimato, informou que os civis foram o alvo do ataque, que durou "várias horas" e no qual "mais de 90 pessoas morreram, casas foram incendiadas e centenas de pessoas foram deslocadas”.
"Os corpos estão jogados pela rua e pelas fazendas", disse Admasu Kebede, um residente de Bekuji Kebele, que disse não ter certeza sobre o número de mortos porque nem todos os cadáveres foram recuperados.
Tesfahun Amogne, outra testemunha, declarou ao mesmo jornal que acordou com tiros ao amanhecer.
"Logo nos cercaram, cerca de 500 homens armados. Alguns de nós corremos para salvar nossas vidas, enquanto outros foram assassinados", explicou, ao dizer que a polícia foi avisada "repetidamente", mas que os agentes chegaram tarde.
Ainda por identificar os autores dos ataques
As autoridades não esclareceram ainda a autoria dos ataques, mas o governante Partido da Prosperidade de Benishangul-Gumuz repudiou em comunicado "as atrocidades cometidas contra os civis por bandidos armados".
Os amhara, o segundo grupo étnico mais populoso da Etiópia, já foi alvo de ataques na região. No dia 1º de novembro, ao menos 54 pessoas morreram em um ataque que as autoridades atribuíram ao grupo armado Exército de Libertação Oromo, segundo a Anistia Internacional.
O ataque ocorreu em Wollega, na região de Oromia, onde está o maior grupo étnico do país, os oromos, e onde fica Adis Abeba. À época, a Comissão Etíope dos Direitos Humanos disse que os agressores atacaram residentes da etnia amhara.
Desde que chegou ao poder em 2018, Abiy, de 44 anos e oromo, impulsionou importantes reformas na Etiópia, o segundo país mais populoso da África, como a anistia a milhares de presos políticos, a legalização de partidos opositores e o compromisso de realizar eleições.
No entanto, o mandatário recebeu críticas por não solucionar alguns problemas, como as tensões étnicas que geram ondas de violência e tornaram a Etiópia um dos países com mais deslocados no mundo.
Recentemente, Abiy, que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2019, também recebeu críticas por ter lançado no mês passado uma ofensiva armada contra as autoridades rebeldes da região do Tigré, que causou centenas de mortes e o deslocamento de mais de 52 mil pessoas ao vizinho Sudão.