Etiópia: Forças de Tigray reivindicam ataque à Eritreia
15 de novembro de 2020No sábado (14.11), as forças de Tigray, uma região dissidente na Etiópia que luta contra o exército federal, já tinham ameaçado atacar o aeroporto da Eritreia, em Asmara. O ataque aconteceu durante a noite e, este domingo, foi reivindicado pelo presidente da região de Tigray, que se justificou com o apoio dado pela Eritreia ao Governo da Etiópia.
Segundo dois diplomatas ouvidos pela agência de notícias France Presse, pelo menos dois de vários mísseis disparados de Tigray abalaram a área junto ao aeroporto na capital da Eritreia. Até ao momento, não foi possível precisar a situação de eventuais vítimas e danos.
"As forças etíopes também estão a usar o aeroporto de Asmara", de onde partem aviões que bombardeiam Tigray, tornando-o, por isso, "um alvo legítimo", disse o presidente da região dissidente etíope, Debretsion Gebremichael, em declarações à AFP.
Gebremichael acusou ainda o exército da Eritreia de se envolver em combates terrestres em Tigray, região norte da Etiópia. As tropas de Tigray "estão a lutar contra as forças da Eritreia há alguns dias em várias frentes", repetiu este domingo o presidente da região.
A AFP recorda que estas afirmações não podem ser verificadas de forma independente devido ao 'blackout' imposto à região e restrições de viagens jornalistas. Segundo a agência noticiosa, as autoridades da Eritreia não reagiram imediatamente ao ataque. No entanto, citado pela agência Reuters, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Eritreia, Osman Saleh Mohammed, rejeita o envolvimento do país: "Não fazemos parte do conflito".
O ataque deste sábado aconteceu horas depois de a TPLF, considerada um grupo rebelde pelo Governo etíope, ter reivindicado ataques a dois aeroportos em Ahmara, região vizinha de Tigray.
O conflito até agora
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, lançou uma ofensiva militar em Tigray a 4 de novembro, depois de acusar as forças da região de atacarem tropas federais. A Etiópia tem estado a realizar ataques aéreos em Tigray, garantindo que as operações militares visam restaurar o "estado de Direito" na região.
O conflito já matou centenas de pessoas e fez milhares de deslocados, muitos refugiados agora no Sudão. O Governo de Abiy Ahmed rejeitou os apelos internacionais à cessação das hostilidades, exigindo o desarmamento da TPLF antes de qualquer tentativa de diálogo.
Tigray é uma região fortemente armada que teve um papel fundamental no Governo e exército da Etiópia por mais de 30 anos. A Etiópia e a Eritreia travaram uma guerra entre 1998 a 2000, quando a Frente Popular de Libertação do Tigray dominou o aparato político e de segurança em Addis Abeba, sendo que os dois países permaneceram em conflito até que Abiy Ahmed se tornou primeiro-ministro em 2018 e fez as pazes com Asmara. No ano seguinte, venceria o prémio Nobel da Paz pelos esforços de aproximação ao país vizinho.
Desde que Abiy Ahmed assumiu a chefia do Governo etíope, o poder de Tigray na política nacional diminuiu e a TPLF queixa-se de ser usada como bode expiatório para os problemas do país. A tensão aumentou em setembro, quando Tigray realizou eleições, desafiando o Governo federal, que classificou a votação como "ilegal".
Numerosos observadores consideram que o conflito na região poderá desestabilizar o Corno de África.