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Espécie de lagarto de Cabo Verde entra em extinção

Marina Estarque4 de julho de 2013

Três novas espécies entraram em extinção, afirma a União Internacional para a Conservação da Natureza. Dentre elas, um lagarto endémico de Cabo Verde, que não é visto desde 1912. O país tem uma biodiversidade única.

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O lagarto é endémico de Cabo VerdeFoto: Nelio dos Santos

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) anunciou nesta terça-feira (02.07) a nova Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Dentre os três animais que foram declarados extintos está o Chioninia coctei, conhecido como Lagarto Gigante de Cabo Verde. As outras duas espécies são um tipo de camarão de água doce e um peixe da bacia do rio Santa Cruz, no estado do Arizona, Estados Unidos.

A organização avalia mais de 70 mil espécies, das quais cerca de 21 mil estão ameaçadas de extinção. Destas, quase 800 já desapareceram por completo.

Echse - Chioninia coctei
Imagem do Chioninia coctei, conhecido como Lagarto Gigante de Cabo VerdeFoto: PD

Segundo Craig Hilton-Taylor, um dos dirigentes da UICN, apesar da extinção ser um processo natural, o ritmo de desaparecimento de espécies no mundo está acelerado devido à ação humana. "É certamente um processo natural, espécies entram em extinção e isso é parte do processo natural de evolução".

Craig Hilton-Taylor acrescenta que o que é visível com a Lista Vermelha "é que as espécies estão a desaparecer muito mais rápido que a taxa normal de extinção" de antigamente. "Olhando para diferentes grupos de organismos, pássaros, mamíferos, percebemos que a taxa atual de extinção é até mil vezes maior que a taxa que tínhamos conhecimento", salienta. Diz ainda que o declínio de espécies "é geralmente causado direta ou indiretamente pelos humanos".

Couro para sapatos

Acredita-se que o Lagarto Gigante de Cabo Verde já viveu espalhado por todo o país. Segundo o dirigente da UICN, há indícios fósseis do animal em São Vicente, Santa Luzia e São Nicolau. Aos poucos, entretanto, o habitat foi restrito às ilhas Raso e Branco.

Espécie de lagarto de Cabo Verde entra em extinção

O desaparecimento da espécie, afirma Craig Hilton-Taylor, está ligado a diversos fatores, até mesmo as secas periódicas. "As pessoas introduziram gatos, cães e ratos nas ilhas, acidentalmente ou de propósito". Segundo o representante da UICN, estes animais são predadores que capturavam e comiam os lagartos. Além disso, competiam por comida.

Craig Hilton-Taylor afirma que há "registos de que as pessoas comiam os lagartos, especialmente durante as secas, como fonte de proteínas". Ela explica que as peles também eram muito procuradas por fazerem bom couro para sapatos: "Como eles são animais pequenos, eram necessários muitos para fazer um único sapato", conta.

O dirigente acrescenta que a zona é muito propensa a secas periódicas, que pioraram com atividades humanas. "Tudo isso combinado é que finalmente causou a extinção do animal", diz.

Medicina tradicional contra a dor

Logo IUCN
A IUCN lançou a nova Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas

A espécie, que só existe no país, foi vista pela última vez em 1912. Passaram-se vários anos e foram necessárias muitas pesquisas até que a organização pudesse confirmar o desaparecimento do animal.

Ainda assim, não é possível determinar exatamente quando isso ocorreu. Segundo a organização, o Lagarto Gigante de Cabo Verde era usado tradicionalmente pelas suas propriedades medicinais, especialmente contra a dor.

Com a extinção do animal, afirma o dirigente da UICN, este é um conhecimento que se perdeu. No mesmo grupo do Chioninia coctei, há outras oito espécies de lagartos endémicas do país. Segundo Craig Hilton-Taylor, algumas delas estão ameaçadas de extinção e é preciso melhorar as políticas de proteção ambiental.

Espécies invasoras

O lagarto Vaillant Mabuya está parcialmente sendo impactado por atividades agrícolas, mas também há um novo invasor que está a afetar esta espécie, que é um outro lagarto africano, o Agama Agama", adianta. Para o dirigente da UICN, estes lagartos invasores têm de ser melhor controlados e erradicados.

"Ao mesmo tempo, temos que reproduzir em cativeiro a espécie ameaçada e reintroduzi-la na natureza". Craig Hilton-Taylor defende que Cabo Verde não tem, no momento, uma boa política de áreas proteção ambiental. "Eu acho que há discussões acontecendo para declarar mais reservas naturais e lugares de proteção nas ilhas. E o quanto antes isso for feito, melhor", recomenda.

Craig Hilton-Taylor destaca ainda que Cabo Verde possui uma biodiversidade única, já que muitas espécies, principalmente terrestres, existem apenas neste país.