Espera por petróleo será causa de "geração frustrada" em STP
6 de outubro de 2024A movimentação de gigantes do setor petrolífero em São Tomé e Príncipe estará a evidenciar que o arquipélago deverá experimentar uma intensa expansão na produção deste recurso nos próximos anos. Esta é a opinião do ex-ministro das Infraestruturas Osvaldo d'Abreu numa entrevista à agência Lusa.
Em outubro de 2022, o consórcio Galp e Shell confirmou "a existência de um sistema petrolífero ativo" no poço denominado "Jaca" no bloco seis da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de São Tomé e Príncipe, mas sem evidência de que "tenha um potencial recuperável suficientemente grande para ser comercial".
A esperança de que São Tomé e Príncipe será um produtor de petróleo e transformará a sua economia não é uma novidade. Há mais 20 anos fala-se nisto, mas até hoje o país não bombeou qualquer barril.
Segundo Osvaldo d'Abreu, agora "os sinais evidenciam a existência de petróleo e investidores querem estar presentes". O ex-ministro das Infraestruturas cita a presença da Petrobrás e da Galp, que estão a fazer pesquisas e investindo milhões na região.
A possibilidade de existência de petróleo ao largo da costa de São Tomé e Príncipe tem motivado o interesse das grandes petrolíferas, como a TotalEnergies ou a Galp, que chegou a lançar uma missão exploratória.
Especulação e frustração
O autor do livro "Petróleo em São Tomé e Príncipe - Os efeitos das expectativas geradas nos agentes económicos" acrescentou à agência Lusa, que, apesar da provável existência de petróleo em quantidade suficiente para tornar a exploração economicamente viável, há também frustração na sociedade são-tomense que espera a transformação da economia via petróleo há mais de duas décadas.
Segundo Osvaldo d'Abreu, cidadãos viram-se prejudicados porque investiram na perspetiva de que a economia ia para uma certa direção que não seguiu, e perderam. Mesmo assim, seguindo o ex-ministro, falar da possibilidade da existência de petróleo trouxe mais vantagens que desvantagens.
"Há construções abandonadas, empresas que acabaram por fechar e famílias e investidores que modificaram o seu 'modus operandi', ampliaram os seus negócios na perspetiva de mais serviços, e há também muitos quadros que direcionaram a sua formação para as minas e muitos estão frustrados porque ficaram com uma formação técnica sem aplicação prática no país", afirmou à agência Lusa.
A mudança que não aconteceu
Osvaldo d'Abreu lembra que os efeitos das expectativas estão espalhados por todo o território nacional, principalmente entre 2012 e 2014. Para ele, no cômputo geral, houve mais aspetos positivos do que negativos, disse Osvaldo d'Abreu sobre a expectativa da existência de petróleo nas águas ultraprofundas de São Tomé e Príncipe.
O petróleo, explicou, "colocou São Tomé e Príncipe no mapa como um lugar mais conhecido e como um lugar com algum interesse para o investimento, o que antes da assinatura do memorando [de exploração petrolífera], em 1997, não acontecia".
Nesta época, segundo o ex-ministro, isso foi encarado como [o país podendo vir a ser] um grande produtor de petróleo e, com a pouca população que tem, isso podia mudar radicalmente a vida das pessoas", acrescentou, lembrando os "grandes investimentos associados diretamente à perspetiva da exploração na área turística, da construção civil e do comércio, para além das infraestruturas".
São Tomé e Príncipe é vizinho da Guiné Equatorial e da Nigéria, o maior produtor de petróleo na África subsaariana.