Especialistas preocupados com os órfãos da SIDA
1 de dezembro de 2011Hoje, a SIDA deixou de ser uma sentença mortal e passou a ser um mal controlável, devido à existência de medicamentos que conseguem adormecer o vírus, mas não o curam. Mas a doença continua a ser um problema em Moçambique. Segundo o Ministério da Saúde, neste país a taxa de seroprevalência é de 11,5 por cento na faixa etária dos 15 aos 49 anos.
É, sobretudo, para aprofundar o esclarecimento da população, que Moçambique se alia, todos os anos, em 1 de dezembro, às celebrações do Dia Mundial de Luta contra a SIDA. Pretende-se ainda aproveitar o ensejo para reafirmar a vontade de agir de forma mais enérgica no combate à SIDA. Nomeadamente para intensificar as ações de prevenção que impeçam a ocorrência de novas infeções.
Órfãos causam preocupação
Os especialistas identificam ainda um outro fenómeno preocupante pela sua dimensão: o número crescente de crianças órfãs, particularmente vulneráveis. Por isso, a sua maior preocupação é proteger os meninos dos males que a SIDA trouxe, afirma Olinda Mugabe da Associação Reencontro, que alerta para o aumento das infeções de um modo geral: “O desafio que nós temos é realmente ajudar a camada mais jovem a ter cuidado”.
Em Moçambique, estimam-se em cerca de 150 mil as crianças seropositivas. Aquelas que ficaram órfãs devido ao HIV/SIDA ascendem a quatrocentas mil, segundo dados recentes do Ministério da Saúde. Por isso, a organização não governamental Reencontro preocupa-se agora em integrar as crianças órfãs em famílias adotivas, diz Mugabe, e acrescenta: “ Para que, no futuro, quando crescerem, sejam homens iguais e tenham oportunidades de emprego, uma casa, uma família.”
A SIDA traumatiza
A SIDA afeta diretamente as crianças em todos os aspetos da sua vivência. A psicóloga Mecelina Xai Xai explica que os órfãos precisam de um ambiente saudável para poderem desenvolver-se: “Elas não têm uma relação de pai e filho. Logo, o seu desenvolvimento geral vai sofrer. Mesmo o físico. Podem ficar raquíticas e não ter apetite”. A psicóloga realça ainda as dificuldades que as crianças terão em aprender o que são as relações afetivas que devem ser estabelecidas entre pais e filhos.
Embora não haja dados oficiais, o número de orfanatos em Moçambique cresceu. Muitas crianças foram recolhidas por estas instituições. Tristesa, é mãe de uma dezena de órfãos e o seu trabalho não é fácil: “As crianças que temos aqui são vulneráveis. São diferentes de crianças que vivem com os pais e que recebem aquele amor, carinho. As que temos aqui têm falta desse carinho.”
Conhecer a própria História é importante
Nos últimos trinta anos, várias batalhas foram travadas para conter o avanço da SIDA. Em Moçambique, algumas pessoas infetadas pelo vírus decidiram organizar-se numa associação de nome Kindlimuka, que quer dizer “desperta”. A associação também se mostra preocupada com o índice de orfandade em Moçambique.
Por isso diz, Amós Sibambo, a Kindlimuka tem vários projetos ligados a crianças. “Trabalhamos com as famílias sobre a questão de testamento e livro de memória. Assim, as famílias adotivas tentam ensinar um pouco da história da família, para a criança aprender alguma coisa que tem a ver com a morte, e para que ela conheça os seus ancestrais. É uma questão que ajudou muito nas comunidades que já estão sensibilizadas para o problema.”