Especialistas alemães recomendam 'plano Marshall' africano
11 de novembro de 2016Dois institutos de pesquisa apresentaram na sexta-feira, 11 de novembro, em Berlim, os resultados de um estudo sobre a viabilidade de um "plano Marshall" para África. As duas instituições, o Club of Rome e o Senado da Economia na Alemanha, propõem um gigantesco programa de 120 mil milhões de euros para estimular o crescimento económico do continente vizinho e criar emprego para a juventude africana.
Um plano deste gabarito implicaria também o aumento considerável do envolvimento alemão em África. Segundo o presidente do Senado da Economia, Franz Josef Radermacher, atualmente, "a Alemanha gasta uma média de dois euros por africano em projetos de desenvolvimento."
O estudo propõe que uma parte dos fundos necessários seja adquirida nos mercados de capital. O Governo de Berlim poderia então garantir os investimentos. Outros países africanos poderiam aderir ao plano. Radermacher, que coordenou o estudo, afirma que os fundos podem servir de "ignição para a produção de riqueza no continente" se forem aplicados com discernimento, "especialmente na infraestrutura e no setor industrial."
Fomentar a agricultura e as energias renováveis
Os autores do documento nomeiam a agricultura e as energias renováveis como as áreas de maior potencial em África. Por exemplo, escrevem, a construção de estações de energia solar em algumas zonas do continente não só poderia criar emprego, como também resolver os problemas resultantes da falta persistente de energia. O relatório apela ainda a uma ampliação dos programas humanitários para refugiados e pessoas internamente deslocadas.
O ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, é um dos promotores mais vocais de um "plano Marshall" para África como estratégia para reduzir os níveis de pobreza. O nome faz referência a um plano desenvolvido pelos Estados Unidos da América para reconstruir a Europa em ruínas após a Segunda Guerra Mundial. O plano Marshall incluiu créditos, empréstimos e outra assistência no valor de 14 mil milhões de dólares norte-americanos. Hoje acredita-se que esta iniciativa é co-responsável pela rápida e forte recuperação da parte ocidental do continente europeu após a devastadora guerra.
'Nada de neo-colonialismo'
Na apresentação do estudo na capital alemã, o ministro salientou que ajudar a África a combater a pobreza não é apenas uma obrigação moral: "Temos que investir nestes países, temos que dar uma perspetiva aos seus cidadãos. De outra forma não serão apenas algumas centenas de milhares, mas milhões de pessoas a fugir dos seus países em poucas décadas."
O ministro alemão deixou bem claro que não se trata aqui de mais um exemplo de uma iniciativa para o desenvolvimento do Ocidente criada à revelia dos interesses africanos, uma crítica que se ouve com frequência tanto do lado africano como de especialistas no mundo industrializado. "Trata-se de reforçar e desenvolver as forças e os potenciais da África. Não se trata de chegarmos lá com os nossos planos e o nosso dinheiro e dizer 'É assim que vamos fazer'. Nada de neo-colonialismo", insistiu Müller.
O ministro propõe que a Alemanha desenvolva novos instrumentos para garantir investimentos nos países africanos. Por seu lado, os países africanos teriam que melhorar as condições de investimento, promover a boa governação e combater a corrupção, disse o titular da pasta do desenvolvimento: "Os países africanos têm que se tornar confiáveis e promover o princípio da segurança jurídica", concluiu Müller.
Um plano em aberto
Apesar da promessa do ministro de apresentar um conceito para um "plano Marshall" para África num futuro próximo, está em aberto quando este poderá ser concretizado. A chanceler alemã, Angela Merkel, rejeitou a noção de um "plano Marshall" numa visita recente ao Níger. Merkel explicou ao Presidente Mahamadou Issoufou que as condições em África "são completamente diferentes das condições na Europa após a Segunda Guerra Mundial."
Acresce que a Alemanha se prepara para ir às urnas em outubro do próximo ano. Os alemães estão preocupados com a ameaça do terrorismo, o financiamento público das reformas e o aumento dos custos no setor da saúde. É improvável que o Governo se ocupe numa altura destas de iniciativas políticas que não interessam à maioria dos eleitores alemães.