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Escritório de deputado senegalês é atacado na Alemanha

Ralf Bosen
17 de janeiro de 2020

Episódio gerou manifestações de apoio de diversas correntes políticas ao social-democrata. Karamba Diaby vive há 30 anos na Alemanha e foi eleito pela primeira vez em 2013.

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Deutschland Karamba Diaby (SPD) im Bundestag
Diaby: "Tornou-se comum usar a violência para expressar opiniões"Foto: Imago Images/Christian Spicker

Os ataques ao escritório político do deputado Karamba Diaby geraram indignação e manifestações de apoio e diversas personalidades de várias correntes do meio político alemão. Os disparos ocorreram quarta-feira (17.01) à noite, no centro da cidade de Halle der Saale, no Estado da Alta Saxónia, nordeste da Alemanha.  

Foram vários disparos em direção ao gabinete do membro do partido social-democrata alemão, o SPD. Diaby é deputado do Parlamento alemão desde 2013. Nascido no Senegal, vive na Alemanha há 30 anos.  Segundo a polícia, depois do crime, o atirador desapareceu e não foi reconhecido.

"Infelizmente, nos últimos anos, tornou-se muito comum que as pessoas usem a violência para expressar suas opiniões. Esta é a segunda vez que o escritório é atacado. É muito triste, e deixa-me atordoado", disse o parlamentar, ressaltando que já é o segundo ataque ao seu escritório político.

Deutschland | Anschlag mit Schüssen auf das Wahlbüro von Karamba Diaby
Vidro do escritório com marcas de tirosFoto: imago images/S. Schellhorn

Em 2015, pessoas que até hoje não foram identificadas quebraram todas as janelas do escritório. Como os autores do crime não foram encontrados, a polícia encerrou as investigações.

Intolerância de extremistas

Diaby foi alvo de ódio e violência em várias ocasiões. Após esta último ataque, ele publicou na rede social Twitter, um foto da vidraça, na qual podem ser vistos três buracos de tiros. Ninguém estava no escritório na altura do incidente. Segundo a polícia, dois outros edifícios perto da cidade também foram alvejados.

O parlamentar de origem senegalesa acha que o clima político mudou nos últimos dois anos. O tom do debate político também tornou-se mais agressivo. Nos parlamentos estaduais, mas também no Bundestag, ele diz que ouve discursos mais duros contra minorias. "São hostis aos seres humanos. Os políticos alemães também devem pensar na contribuição que dão para garantir que o clima na sociedade leve à divisão e não à coesão", argumenta.

Deutschland | Rechtsextremisten | Neonazis
Alemanha regista aumento da violência, especialmente de extrema-direita Foto: picture-alliance/dpa/ZUMAPRESS

Diaby acredita que o objectivo destes atos criminosos é intimidar políticos e jornalistas. "Não devemos deixar que isso aconteça. Eu não me vou intimidar. Vamos continuar a fazer o nosso trabalho", promete o social-democrata.

Os tiros confirmam uma tendência sombria. Há alguns anos, a Alemanha regista o aumento da violência, especialmente de extrema-direita, contra representantes do Estado que não têm proteção pessoal.

Em outubro de 2015, Henriette Reker, então candidata ao Executivo da cidade de Colônia foi gravemente ferida com uma facada. Em tribunal, o autor do crime disse que queria dar o sinal contra a política alemã de refugiados. Alguns meses antes, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel,  decidiu abrir as fronteiras alemãs para refugiados.

Em novembro de 2017, um homem de 56 anos esfaqueou Andreas Hollstein, o chefe do Executivo da cidade de Altena, perto de Colônia. O autor do crime disse que estava bêbado e também queixou-se da política de refugiados.

Em junho de 2019, o presidente distrital da cidade de Kassel, Walter Lübcke, foi executado com um tiro na cabeça à queima-roupa. Um dos principais suspeitos cita como motivo as declarações de Lübcke durante a onda de migração de 2015, contra o racismo e a islamofobia.

Escritório de deputado alemão de origem senegalesa é atacado

Segurança pessoal de políticos

Segundo o consultor de segurança, Stefan Bisanz, os tiros devem ser vistos em conexão com ataques anteriores. O especialista em segurança pessoal e chefe da empresa de consultoria em segurança Consulting Plus diz que ataques a políticos e outros representantes do Estado "não foram devidamente entendidos nem atendidos durante muito tempo".

Bisanz assinala que os membros ameaçados do Parlamento Federal têm a possibilidade de recorrer ao Departamento Federal de Polícia Criminal. "Lá, uma análise de risco e uma classificação é preparada. A classificação "1" aplica-se ao Chanceler Federal, ao Presidente da República e a alguns ministros seleccionados".

Estes políticos de maior relevância recebem apoio de segurança 24 horas por dia. As análises solicitadas, porém, seriam feitas de acordo com recursos limitados. "Neste aspecto, estes pedidos são muitas vezes minimizados e espera-se sempre até que algo aconteça", explica Bisanz.

Segundo o especialista, o grupo políticos federais, estaduais e locais que se tornam alvo de ataques, geralmente não reportam muitas coisas e os incidentes não chegam ao conhecimento da média. "Os políticos têm de pensar em como podem parar esta perda de valores na sociedade e, mais do que isso, revertê-la".