Entrada de mercadorias estrangeiras dificultada em Angola
2 de abril de 2013Encontrar uma solução que agilize a entrada de bens de empresas estrangeiras na área da distribuição alimentar em Angola foi o tema discutido pela Direcção-Geral das Anfândegas de Angola e os seus importadores no dia 26 de Março, em Luanda.
Recentemente, foi posta em vigor na Alfândega angolana uma obrigação de análise laboratorial de todos os bens alimentares importados para o território, que veio criar elevados custos dos produtos e demora na saída de bens importados no porto de Luanda.
Quem está responsável pela análise de todos os alimentos estrangeiros é a Bromangol, empresa recentemente criada para o propósito. Victor Jorge, analista português e director da revista angolana Distribuição em Expansão, alerta para o resultado que a sobretaxa sobre os produtos alimentares irá criar em Angola.
"Qualquer produto alimentar ou bebidas importados tem que ser sujeito a um processo de análise em laboratório", explica, exemplificando: "um contentor para vir de Roterdão para Luanda custa 4 mil e 500 dólares. Só a análise pode custar mais do que o transporte do contentor, somando o valor que os importadores têm que pagar pelas análises feitas pela Bromangol, mais a nova pauta aduaneira".
Poder de compra do consumidor angolano posto em causa
A pauta aduaneira, segundo o analista, "vai ter um aumento de preços que vai encarecer o produto de tal maneira, que a dúvida agora é uma: não suportando o executivo o custo das análises, quem é que vai suportá-lo?". "É o importador ou vão ser transferidos para o consumidor?", questiona.
O poder de compra do consumidor angolano pode estar a ser comprometido com esta medida, que vai ver os produtos importados serem vendidos por preços muito mais elevados. Para Victor Jorge, esta medida surge como um incentivo à produção nacional. Contudo, na perspectiva do analista, o problema que é levantado, é o facto de não existir uma rede de produção em Angola e o país ser dependente da importação de bens estrangeiros.
"Em Angola, se formos a uma prateleira de supermercado eventualmente 80% a 90% dos produtos são importados", afirma, concluindo que "se fechar as portas a produtos importados desta maneira, ou não se vai ter os produtos ou os produtos vao ficar caros, porque a produção nacional de determinados produtos não acontece de um dia para o outro".
Apesar das medidas, "Angola ainda é aposta", diz analista
De acordo com o analista, "se houvesse produção nacional, eventualmente nós não estaríamos contra estas taxas e estas medidas". Não havendo, considera, "é muito difícil de perceber porque é que o executivo quer taxar os produtos importados de tal maneira que depois não podem ser consumidos pelo consumidor angolano".
Mas será que esta dificuldade encontrada na entrada dos produtos estrangeiros está a desincentivar a aposta de mercados internacionais? Victor Jorge acha que Angola ainda é um "país de oportunidades", mas "agora as oportunidades não são ou não estão à mercê de quem vem para cá sem uma operação perfeitamente pensada, organizada e estruturada e na busca do parceiro certo a nível local, porque nada se faz aqui sem encontrar um parceiro local".